Os carrinhos de bebé, as malas de viagem com rodinhas, as cadeiras de rodas e as bicicletas vão circulando entre os milhares de pessoas que circulam nas imediações do palácio que serve em Londres de residência oficial aos monarcas britânicos.
Aproximam-se da vedação do palácio os mais solenes, a maioria vestidos de preto, que querem deixar flores nas grades ou no chão, já repleto de ramos com mensagens de agradecimento "à mãe dos britânicos" e a desejar que "descanse em paz".
É o caso de Loreta Robson, de 86 anos, inglesa de Essex (a cerca de 50 quilómetros de Londres), que foi com a neta depositar dois ramos de flores em Buckingham, mesmo que a descida a pé da avenida até aos portões do palácio lhe tenha levado muito tempo, por causas das dificuldades de locomoção, que a obrigaram a parar sempre que percorria alguns metros.
"Era muito importante virmos e trazer estas flores em sinal de respeito por uma senhora adorável, que foi sempre solidária, forte e leal, não só como Rainha, mas como pessoa", disse à Lusa.
Ao contrário do que acontece com quase todas as pessoas à sua volta, incluindo a neta, Loreta não tem um telemóvel nas mãos ou uma máquina fotográfica para registar "a História a acontecer", nas palavras da maioria das pessoas com quem a Lusa falou hoje à tarde junto ao Palácio de Buckingham.
A Rainha Isabel II morreu no Castelo de Balmoral, na Escócia, onde ainda está o corpo da monarca, que só vai chegar a Londres na próxima semana, mas a logística já montada ou em preparação em redor do Palácio de Buckingham, e os milhares de pessoas que ali já acorrem e permanecem, comprovam que o "momento é histórico" e "com interesse transcontinental", como disse à Lusa Ed, um estudante londrino de 20 anos, com uma máquina fotográfica nas mãos que, como muitas outras que se vêm no local, rivaliza com as dos profissionais do jornalismo que ali trabalham por estes dias.
Ed foi ali com o amigo Xavier, também de 20 anos, "não pela Rainha", mas para observar o fenómeno de multidão gerado com a morte de Isabel II e pondera "um dia" desenvolver algum tipo de projeto com as imagens que está a registar por estes dias.
O amigo Xavier também está ali pelos mesmos motivos e é contundente quando diz que "ninguém está aqui pela Rainha, a multidão é sobretudo uma mistura de arquimonárquicos, curiosos e turistas".
Turistas como Tseng, de 68 anos, de Taiwan, em visita à filha Jeri, de 37, que vive em Inglaterra, em Bristol.
Atendendo a que "a História está a acontecer" por estes dias no Reino Unido, decidiram que a visita de Tseng à Inglaterra tinha de passar pelo Palácio de Buckingham, até porque Tseng viu há pouco tempo a série televisiva "The Crown" e Isabel II foi Rainha tantos anos, que sente que a conhece.
"Vou sentir a falta dela", diz Tseng à Lusa, segurando a mala de viagem e rindo, enquanto a filha faz mais algumas fotografias e vídeos com o telemóvel.
Para Rosalba Ostik, colombiana de 45 anos a viver em Londres há 24, "a tecnologia" e o afã de fazer vídeos e fotografias com telemóveis retira solenidade ao que está a acontecer no Palácio de Buckingham e acredita que é este o motivo porque não viu "ninguém chorar", num ambiente "totalmente diferente" do que aconteceu quando morreu Diana de Gales, quando as pessoas "choravam inconsoláveis"
Um pouco mais afastadas dos portões do palácio sentaram-se Louise Smith, de 50 anos, e Susan Wartrop, de 76, também mãe e filha. Trouxeram de casa, em Kent, cadeiras de campismo, termos com chá, casacos e guarda-chuva.
"Estamos bem preparadas, vimos muito aqui, em todas as grandes ocasiões", explicou Louise, que diz que Isabel II é "a mãe da nação" e sentiram que tiveram de ir hoje a Londres para lhe prestar homenagem.
Prometem voltar no dia do funeral, com todos os filhos e os netos: serão dez pessoas, a mais nova com dois anos de idade.
O funeral de Isabel II deverá acontecer só dentro de dez dias, mas junto ao Palácio de Buckingham e nas imediações há já grades e delimitar diferentes zonas e a orientar o sentido da marcha dos milhares de pessoas que ali se dirigem.
São também centenas os jornalistas de todo o mundo em diretos e reportagem por todo o recinto e a comunicação social tem também uma zona delimitada de acesso condicionado, a partir de onde televisões e rádios estão também já a fazer painéis de debate e análise com especialistas e transmissões em direto.
Nas laterais da avenida que desce até ao palácio, estão estacionadas ambulâncias, há uma tenda de cuidados médicos e são visíveis equipas de paramédicos com bicicletas equipadas para assistência de emergência.