A medida, apresentada pela coligação que lidera o parlamento regional deste Estado federado, composta pelo Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), os Verdes (Die Grünen) e A Esquerda (Die Linke) foi aprovada no final do mês de janeiro.
“É a primeira vez na Alemanha que o Dia Internacional da Mulher é assinalado como feriado, e acontece aqui, em Berlim. Houve outros Estados que escolheram outros dias, religiosos, por exemplo, mas nós não queríamos isso. Enquanto for preciso lutar pela igualdade entre homens e mulheres, nos salários ou na política, precisamos de um dia que nos recorde disso, com um feriado, para dar mais relevo a este assunto”, revelou à Lusa Silke Gebel, a líder parlamentar dos Verdes em Berlim.
Apesar de ter avançado, a proposta enfrentou resistência por parte da União Democrata Cristã (CDU), partido de Angela Merkel, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e do Partido Liberal Democrático (FDP).
“Tivemos um longo debate. Os partidos conservadores não gostaram da ideia de transformar este dia num feriado, mas na antiga Alemanha de Leste, o Dia da Mulher já tinha uma grande relevância no passado. Por isso, principalmente para a ala mais à esquerda da nossa coligação já é uma tradição. Agora sugerimos uma combinação entre a tradição do Leste e o feminismo existente nos Verdes, por exemplo”, explica Silke Gebel.
O Dia Internacional da Mulher já é feriado em países como a Rússia, a Guiné-Bissau ou o Vietname, entre outros, mas Berlim é o primeiro Estado federado da Alemanha e a primeira cidade da União Europeia a adotar esta mudança.
“É curioso porque, pelo mundo, há outros países que não são propriamente muito democráticos e assinalam este dia como sendo feriado. Sei que há a tradição dos países chamados socialistas fazerem isso, mas o que nós queremos realmente é começar uma nova tradição, apoiada no feminismo, que seja como o Dia do Trabalhador, em que se luta pela igualdade e pela justiça laboral. Porque temos um longo caminho até que a mulher consiga de facto ter os mesmo direitos”, sublinha a líder do grupo parlamentar dos Verdes em Berlim.
Há precisamente um século era concedido o direito às mulheres de votarem na Alemanha. “Foi também por isso que achámos que era a altura certa para começar um novo movimento feminista”, justificou Silke Gebel, revelando que, em Berlim, a primeira mulher votou a 19 de março de 1919.
“A 18 de Março celebra-se o ‘equal pay day’ [equidade salarial] em que são comparados os salários dos homens e das mulheres. E entre o 08 e o 18 de março, nós, os Verdes, vamos levar a cabo várias iniciativas para discutir os direitos das mulheres. Acredito que vá existir uma grande atenção por parte dos meios de comunicação. Espero que outras cidades e países também possam reproduzir este dia no futuro”, frisou.
Para a deputada dos Verdes é importante que as mulheres desempenhem cada vez mais altos cargos para que temas como a igualdades ou a violência doméstica sejam mais debatidos e tenham mais destaque.
“Há uns meses recebemos uns dados assustadores. Praticamente 25% das mulheres a viver na Alemanha já foram vítimas de algum tipo de maltrato ou violência doméstica. E é um número que não está ligado a nenhuma classe social ou económica, diz respeito a todas as mulheres. Tentamos investir mais em casas refúgio para mulheres, para que possam ser acolhidas, mas também fazemos um esforço para que este tema seja cada vez mais debatido”, revelou Silke Gebel.
O dia 8 de março foi assinalado, pela primeira vez, pelas Nações Unidas, em 1975, Ano Internacional das Mulheres. Mas só em 1977 é que a Assembleia Geral da ONU o reconheceu como o Dia dos Direitos da Mulher e da Paz Mundial.
LUSA