"A expectativa é baixa. Os espaços que trabalham com o mercado interno vão ter clientes, agora relativamente à maior parte da restauração, que está voltada para o setor turístico, a expectativa claramente é baixa", disse à agência Lusa Márcio Nóbrega, consultor da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF) e proprietário de seis espaços.
Um pouco por toda a cidade do Funchal é visível alguns restaurantes, bares, cafés e esplanadas abertos desde segunda-feira, mas a adesão do público não é ainda efusiva como acontecia antes da declaração, em 11 de março, de pandemia da Covid-19 pela Organização Mundial de Saúde e o subsequente decretamento pelo Presidente da República do estado de emergência em Portugal, agora estado de calamidade.
"Isto vai levar o seu tempo, não acredito que isto levante até ao final do ano, só ressurgirá quando for descoberta uma vacina", disse à agência Lusa Bernardo Gonçalves, gerente do pub/restaurante "White House", localizado em plena área turístico-hoteleira.
A opinião é partilhada pelo consultor da mesa da restauração e similares da ACIF, que abriu apenas um dos seis bares/restaurantes de que é proprietário.
"Abrir mais é estar a criar mais dívida. Não faz sentido estar a abrir para ter faturação zero", disse Márcio Nóbrega, sublinhando que "não há clientes para tanta oferta", sobretudo tendo em conta que grande parte dos estabelecimentos estava vocacionada para o turismo, setor que continua paralisado.
O empresário dá como exemplo a designada Zona Velha da cidade do Funchal, onde existem 86 restaurantes, dos quais 80 estão voltados para o mercado turístico.
"A pergunta que fica no ar é: Para quem vão abrir?", avançou, apelando às entidades oficiais para transmitirem à população uma mensagem de segurança, no sentido de que, apesar da covid-19, a situação está controlada no arquipélago, onde há registo de apenas 90 casos de infeção, já com 59 doentes curados.
Márcio Nóbrega defende, por outro lado, que devia ser criado um mecanismo, além do ‘lay-off’, que permitisse auxiliar os empresários que não têm condições para operar neste contexto, como a suspensão de contratos de trabalho, isenções fiscais e de pagamentos à Segurança Social.
O empresário alertou que os apoios do Governo Regional, canalizados através de uma linha de crédito de 100 milhões de euros, "ainda não chegaram" e, além disso, são "insuficientes".
À porta do pub/restaurante "White House", o gerente Bernardo Gonçalves confessa que não vai ser fácil enfrentar a reabertura.
"Vamos atravessar, agora, uma fase um bocado difícil com as medidas restritivas e de higienização em vigor. Tivemos de nos adaptar, vamos ver", disse, salientando que a capacidade, no interior e na esplanada, foi reduzida para um terço.
Com dez funcionários, o gerente revela que, perante o encerramento compulsivo, a solução foi recorrer ao ‘lay-off’ e introduzir uma nova valência – o ‘take-away’ – para "minimizar as perdas".
"Mandaram fechar portas, fechar foi fácil, agora reabrir e retomar a vida normal não vai ser fácil, porque as pessoas estão ainda um pouco receosas", declarou, alertando, também, para a falta de turistas, que era uma parte significativa da sua clientela.
Bernardo Gonçalves é de opinião, contudo, que, apesar de todas as dificuldades, "não se pode estar parado indefinidamente, porque há muitas famílias a passar necessidades por aí".
No arquipélago da Madeira, o setor da restauração e similares empregava, direta e indiretamente, segundo dados da mesa da ACIF, cerca de 25 mil pessoas e foi um dos mais afetados pelas medidas de contenção da Covid-19.
"Compreendo que as questões sanitárias estão em primeiro lugar, mas assim parados não conseguimos estar", advertiu Márcio Nóbrega.
E sublinhou: "Sem turismo e sem apoio do Governo é a morte. O que vai acontecer é uma crise social e aí entramos numa espiral recessiva de onde já não conseguimos sair".
C/Lusa