De acordo com a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, os números hoje revelados pelo COSI “eram expectáveis e reforçam a necessidade urgente de intensificação de medidas para combater a obesidade infantil”.
“A redução que o país conseguiu, na última década – entre 2008 e 2019 – relativamente a esta matéria, com uma tendência decrescente do excesso de peso e obesidade nas crianças, tornou-se uma otimista conquista. Infelizmente, constatar que estes dados já se encontram no sentido contrário, e que voltamos aos números de 2013, é sem dúvida preocupante”, disse a bastonária, citada em comunicado.
Entre 2019 e 2022, o excesso de peso em crianças aumentou de 29,7% para 31,9% e a obesidade infantil registou um crescimento de 1,6 pontos percentuais, fixando-se no 13,5%.
“Com o cenário atual, e caso não se definam novas políticas de resposta a esta doença, poderão ser precisos mais 10 anos para voltarmos aos números de 2019”, sustentou Alexandra Bento.
A bastonária, no entanto, lembrou que “a conjuntura mundial económico-financeira vivida por fatores inesperados, como a pandemia, guerra e inflação, também comprometeram os progressos alcançados na melhoria do estado nutricional das crianças”.
Segundo Alexandra Bento, deveria ter havido “uma monitorização mais atempada e regular desta doença”, bem como a “capacidade de antecipar e agir preventivamente de forma a travar o avanço de uma epidemia que (…) ameaça a saúde das nossas crianças”.
“É fundamental priorizar a integração de nutricionistas nos cuidados de saúde primários, profissionais capacitados para trabalhar as questões relacionadas com a prevenção da doença e promoção de saúde, nomeadamente no que diz respeito a intervenções especificas de identificação precoce e seguimento”, defendeu, acrescentando que também faltam especialistas na área nas escolas.
Coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), na sua qualidade de Centro Colaborativo da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Nutrição e Obesidade Infantil, o COSI visa produzir dados comparáveis entre países europeus e monitorizar a obesidade infantil a cada três anos numa amostra representativa nacional das escolas públicas do 1.º Ciclo do Ensino Básico.
“Entre 2008 e 2019 Portugal apresentou consistentemente uma tendência invertida da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil, mas em 2022 esta tendência parece não se confirmar, registando-se um aumento de 1,6 pontos percentuais (11,9% para 13,5%) na prevalência de obesidade infantil e de 2,2 pontos percentuais (29,7% para 31,9%) na prevalência de excesso de peso infantil”, refere o COSI que está integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative da OMS/Europa.
Segundo os resultados do estudo, que no ano letivo de 2021/2022 avaliou 6.205 crianças, Portugal situa-se a par da média europeia (29%), com uma em cada três crianças a apresentar excesso de peso.
Lusa