“Ainda que os dados quantitativos obtidos não configurem um quadro dramático, sustentam um cenário de elevada preocupação sobre a diversidade de estímulos tecnológicos que potenciam o alhear da vida física em benefício da vida digital”, adverte o estudo que será apresentado hoje em Lisboa.
O estudo, que pretendeu identificar comportamentos aditivos associados à utilização da internet e das redes sociais, faz parte do projeto de investigação “Scroll, Logo Existo”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia em parceria com o Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências, que inquiriu 1.704 residentes em todo o país, maiores de 16 anos, para estudar as práticas de uso dos ecrãs e os comportamentos aditivos, tendo a fase de recolha e tratamento de dados decorrido entre setembro de 2022 e outubro de 2023.
“A preocupação com o que se passa na internet e o procurar estar ‘online’ regularmente foi um comportamento afirmado por 63,9% dos inquiridos, enquanto 41,3% mencionam a mesma preocupação na utilização das redes sociais e procuram estar online regularmente”, indica o estudo.
São sobretudo os jovens adultos (entre os 25 e os 34 anos) que se mostram mais preocupados com o que se passa na internet e nas redes sociais e que procuram estar mais tempo ‘online’.
“Verificou-se, no entanto, que o terceiro grupo etário mais preocupado com o que se passa nas redes sociais e que procura estar ‘online’ regularmente é composto pelas pessoas com 65 ou mais anos”, salienta o estudo.
De acordo com a investigação, 43,5% dos inquiridos afirmam já ter utilizado a internet “como forma de ‘escape’ ou para aliviar o estado psicológico (sentimentos de culpa, ansiedade, frustração, impotência, tristeza, depressão)” e cerca de 40,1% referem ter recorrido à utilização de redes sociais para o mesmo efeito.
Mais de um quarto dos participantes confessou sentir-se “irritado e ansioso” quando o equipamento tecnológico ou a falta de internet não permite aceder à vida online (28,5%), enquanto cerca de um quinto afirmou sentir o mesmo quando o equipamento tecnológico ou a falta de internet não lhes permite aceder às redes sociais (20,4%), refere o estudo, adiantando que são as pessoas com menos idade (24 anos ou menos) que apresentam mais estes sentimentos, seguidas do grupo etário dos 25 aos 24 anos.
Os resultados do estudo mostram também que 20,8% dos in1uiridos referiram já terem passado pela situação de perder a noção do tempo e não conseguirem desligar na internet e 17,5% nas redes sociais, enquanto 14,3% disseram ter feito esforços infrutíferos para controlar, reduzir ou parar o uso da internet e 9,6% das redes sociais.
Por fim, 3% dos inquiridos afirmaram que comprometeram ou arriscaram a rutura numa relação, emprego ou oportunidades por causa da internet e 2,9% por causa das redes sociais.
Das 1.704 pessoas que participaram no estudo, uma em cada 100 apresenta dependência de internet e das redes sociais.
“Hoje, a internet e as redes sociais, tornaram-se necessidades de primeira importância e, paulatinamente, estão a acentuar a dependência tecnológica, que se reflete numa adição comportamental que gera situações de mudança de humor, ansiedade, isolamento, tolerância e recaída, mais preocupantes em quem está (ainda que momentaneamente) mais vulnerável ou numa situação de imaturidade emocional associada”, modificações que são transversais a todas as idades, géneros, situação face ao emprego, estado civil, habilitações escolares e rendimento, salienta o estudo.
Lusa