A guerra desencadeada pela invasão russa na Ucrânia, agora no seu 26.º dia, não mostra sinais de abrandar e na cidade sitiada de Mariupol uma escola de artes, onde cerca de 400 civis estavam a abrigar-se, foi um dos locais atingidos por uma bomba russa, segundo o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Em Kiev, o presidente da câmara, Vitali Klitschko, anunciou que será imposto um novo recolher obrigatório que "começará hoje às 20:00 (hora local, 18:00 em Lisboa) e irá durar até às 07:00 (locais, 05:00 em Lisboa) de 23 de março".
As tropas russas tentam cercar a capital ucraniana, onde antes da guerra viviam cerca de três milhões de pessoas, e Moscovo confirmou hoje o bombardeamento que domingo matou pelo menos oito pessoas e destruiu vários edifícios, incluindo um centro comercial, alegando que funcionava como depósito de armas.
Os Estados Unidos detetaram um aumento da atividade naval russa no mar Negro, a partir do qual ataca com artilharia a cidade portuária de Odessa, na Ucrânia, disse hoje um alto funcionário do Pentágono.
Numa conversa telefónica com jornalistas, a fonte disse que os russos dispõem de “pouco mais de uma dezena de navios de guerra, embarcações de combate anfíbias de diferentes classes e tamanhos, navios de superfície, draga-minas e patrulheiros que colocaram a norte do mar Negro”.
Nesse sentido, o funcionário indicou que alguns dos ataques de artilharia contra Odessa são resultado das atividades dessa frota russa, “sobretudo das embarcações de combate anfíbias”.
Advertindo que as relações com os Estados Unidos estão "à beira de uma rutura", a Rússia convocou hoje o embaixador norte-americano em protesto oficial contra as críticas do Presidente Joe Biden ao Presidente russo, Vladimir Putin.
Duras críticas a Putin vieram também hoje do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmando que “a Rússia está a cometer muitos crimes de guerra".
"É esse o termo. O que se está a passar em Mariupol é um crime de guerra em massa”, disse Borrell.
As conversações para tentar um acordo prosseguem e o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, que tenta mediar entre a Rússia e a Ucrânia, disse que houve “avanços”, apesar de as partes manterem diversos desacordos e estarem longe de alcançar um cessar-fogo.
Segundo o diário Jerusalem Post, o primeiro-ministro israelita assegurou que, no âmbito dos avanços, a Rússia renunciou a depor Zelensky e a desmilitarizar a Ucrânia, enquanto as autoridades ucranianas se comprometeram a não aderirem à NATO.
Em mais um esforço diplomático, Kiev instou hoje a China a “desempenhar um papel importante” na procura de uma solução para pôr fim à guerra com a Rússia, através de uma mensagem do ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba na sua conta da rede social Twitter.
O vice-primeiro-ministro polaco, Zbigniew Ziobro, acusou hoje a ex-chanceler alemã Angela Merkel e a União Europeia (UE) de terem "construído" o poder de Putin, no mesmo dia em que a ex-chefe da diplomacia europeia Catherine Ashton admitiu que, durante o seu mandato (2009-14), talvez a Comissão Europeia (CE) não tenha sido suficientemente dura com o regime do Presidente russo.
“As sanções que eu na altura propus (contra o Governo russo) foram bem mais do que aquelas que levámos a cabo”, reconheceu Ashton, durante um debate por vídeo sobre a invasão russa da Ucrânia, organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Em Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou hoje que a União Europeia (UE) “ainda não está numa fase” de avançar com proibição às importações de gás e petróleo da Rússia, por dependência energética de alguns Estados-membros, equacionando outras sanções.
“Não estamos ainda numa fase em que possamos discutir sanções que passam pela proibição da importação de gás e petróleo da Rússia, embora esse seja um tema que está não apenas no debate público, como também na concertação entre nós próprios e com outros aliados que já avançaram para esse tipo de medida”, declarou Augusto Santos Silva, falando em conferência de imprensa aos jornalistas portugueses em Bruxelas.
Em declarações no final de um Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, ao lado do ministro João Gomes Cravinho, o chefe da diplomacia portuguesa explicou que “essas sanções eventuais, possíveis, não estão a ser preparadas”, nomeadamente porque “a situação dos Estados-membros é muito diferente no que diz respeito à exposição ao gás e ao petróleo da Rússia”.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou pelo menos 925 civis e feriu 1.496, incluindo mais de 174 crianças, tendo provocado a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, das quais mais de 3,48 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Lusa