"Na Venezuela, não há melhoria à vista. Pelo contrário, acho que a situação está a degradar-se cada dia mais. Por isso, é preciso que as pessoas que estão cá se unam", disse à agência Lusa Ana Cristina Monteiro, presidente da Venecom – Associação da Comumidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira.
A Venecom organizou recentemente, no Funchal, uma "Patinada" (festa pública na rua), na qual participou também a delegação regional da Associação Civil de Venezuelanos (Venexos), com vista a recolher fundos para apoiar os emigrantes.
"A Venexos trata dos que estão lá, a Venecom dos que estão cá", explicou Ana Cristina Monteiro, sublinhando que a primeira recolhe fundos para a compra de medicamentos para enviar para o país, ao passo que a segunda se dedica a apoiar os emigrantes que regressam à região autónoma.
As autoridades regionais estimam que cerca de 7.000 emigrantes oriundos da Venezuela regressaram à Madeira entre 2016 e 2018, sendo que naquele país residem aproximadamente 300 mil madeirenses.
"Não temos recursos e com estes eventos tentamos obter algumas verbas, para poder crescer e tentar prestar mais apoios económicos e mais ajuda às pessoas", disse Ana Cristina Monteiro, realçando que a Venecom está, sobretudo, vocacionada para o apoio jurídico e a ligação aos organismos estatais, nomeadamente as secretarias regionais.
"Ajudamos [o governo regional] a perceber a situação em que vivem os venezuelanos, quais são as necessidades, qual é a realidade quanto a documentação e depois fazemos também conferências informativas", explicou.
A "Patinata", que decorreu junto à igreja de São Martinho, nos arredores do Funchal, procurou recriar o ambiente das festas de Natal na Venezuela iniciadas nos anos 50 do século XX, onde, após as missas da época, se fecham ruas inteiras para que crianças e adultos desfrutem dos seus patins, bicicletas e skates, havendo também muita música e barracas de comes-e-bebes.
"O que pretendemos é unir os venezuelanos e manter as nossas tradições e também pretendemos dá-las a conhecer aos que aqui residem, a nossa música, a nossa gastronomia, pois isso faz parte da integração", disse Ana Cristina Monteiro, vincando que "quando começamos a conhecer o outro apercebemo-nos que não somos tão diferentes".
Doze comerciantes oriundos da Venezuela participaram na "Patinata" em São Martinho, a segunda organizada pela Venecom em dois anos, onde não faltaram ponche creme (bebida à base de ovos, leite condensado e rum), ‘hayacas’ (espécie de empadão de carne embrulhado em folha de bananeira), sandes de pernil, ‘pão de jamón’ e outras iguarias típicas da Venezuela.
"Os que aqui estão, obviamente vão viver o Natal com uma sensação de perda, porque há muitos familiares na Venezuela que estão a passar grandes necessidades. Isso causa um bocadinho de tristeza", disse Ana Cristina Monteiro, considerando, no entanto, que as associações "vão tentar continuadamente ajudar" as comunidades.
LUSA