A propósito do Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, que se assinala na sexta-feira, a agência Lusa falou com Carlos Hipólito, responsável em Portugal pela start-up, que faz encaminhar para pessoas em situação precária excedentes de lojas. E à pergunta se é pedida agora mais ajuda a resposta foi simples: “sem dúvida”.
“Os números no final de 2022 já eram altos, e nos primeiros seis meses deste ano já quase duplicamos o apoio”, disse, considerando que o aumento se deve “à situação que o país está a viver” e prevendo que “em 2024 ainda se vai continuar a sentir esse impacto”.
A empresa, de origem francesa, trabalha em Portugal diariamente com mais de 1.600 instituições, mas tem uma rede pronta para ativar 4.500. E trabalha com 600 a 700 lojas, que fazem doações. Quantas mais empresas integrarem a rede mais desperdício existe e mais instituições podem ser ajudadas.
Carlos Hipólito lembra estes números mas lembra também os que indicam que cada português desperdiça por ano 184 quilos de alimentos, sendo Portugal o quarto país da União Europeia que mais desperdiça.
É por isso que, considerou, há um longo trabalho a fazer, porque não basta dizer que já se desperdiça “um bocadinho” menos, que isso “não chega”.
“É um papel que começa em casa, na educação dos filhos, e passa pela escola, setor onde queremos trabalhar no próximo ano, pelas empresas, pelas políticas governamentais”, disse à Lusa, insistindo que é também preciso “contagiar” as pessoas, porque não é fácil uma mudança dos hábitos de consumo num país onde “tanto se faz à volta de uma mesa”.
E depois acrescentou: “Se calhar não é necessário ter um prato cheio, se calhar 60% é suficiente. Sofremos do problema de ter mais olhos do que barriga”.
Nas palavras de Carlos Hipólito é óbvio que as pessoas sabem que desperdiçam demais (o mundo desperdiça um terço do que produz) e que podem e devem fazer algo, mas na verdade continuam com a mesma postura. “Há sempre uma grande distância entre a intenção e a ação”, afirmou.
É por isso, conta o responsável, que a Phenix quer no próximo ano investir mais na sensibilização, “porque é preciso que as pessoas pensem na questão todos os dias”. E sensibilizar também nas empresas, e nas escolas, porque muitas vezes as crianças “têm o poder de contagiar mais depressa os adultos”.
E sensibilizar em casa mas também nas compras, mas também os supermercados, porque na questão dos desperdício os retalhistas também terão de se adaptar, terão de planear, até para evitarem perdas.
Carlos Hipólito referiu que principalmente as novas gerações da restauração já investem muito no planeamento, mas que é preciso que as famílias também o façam, e que não se deitem fora alimentos ainda bons para consumir.
E lembrou, considerando uma boa aposta, o novo regime jurídico que entra em vigor no próximo ano e que obriga as empresas do retalho alimentar, a indústria produtiva, as lojas e os restaurantes a terem de doar os alimentos que ainda podem ser consumidos, proibindo que se deitem fora se existirem alternativas.
Além de fazer a ligação entre o mercado e as instituições a Phenix tem uma aplicação anti-desperdício (cabazes de excedentes) e forma os profissionais das lojas, da distribuição e da indústria em melhor gestão de excedentes. Faz análise de loja, monta plano de recolha, dá conselhos sobre uso dos produtos, incluindo a transformação para produtos para animais. E as entidades ainda recuperam o IVA dos produtos e poupam em sede de IRC.
Mas, notou, “ainda há muito trabalho para ser feito”, muita sensibilização e muita formação necessária, para que, em cinco anos, se reduza efetivamente o desperdício, uma proposta da ONU, que quer reduzir o desperdício alimentar para metade até 2030.
É também para sensibilizar e informar que na sexta-feira a empresa organiza a primeira edição do “Make it Sustainable: Food Waste Edition”, um debate sobre o combate ao desperdício alimentar e o papel que cada pessoa pode ter na promoção da sustentabilidade na sua comunidade.
Serão debatidos temas como a as boas práticas para combater o desperdício alimentar nas empresas ou como podem os consumidores ser educados e sensibilizados para o assunto.