"Chegámos a acordo com os cinco herdeiros proprietários do edifício. Não foi necessário expropriar, porque houve um acordo entre as partes. Estamos a falar numa verba de 200 mil euros para a aquisição desta antiga estação", disse o presidente do município à agência Lusa.
Paulo Cafôfo anunciou que a ideia é recuperar esta estação intermédia da antiga empresa do Caminho de Ferro do Monte para transformá-la "num local de evocação histórica e de informação turística".
Em tempos, o Funchal teve uma linha de caminho-de-ferro, tendo o primeiro troço, com partida no Pombal (Funchal), sido inaugurado a 16 de julho de 1893. Estendeu-se depois ao Monte e prolongou-se até ao Terreiro da Luta, numa extensão de quase quatro quilómetros. Era utilizado por turistas e locais.
Uma explosão (1919), que provocou quatro mortos, um descarrilamento (1932) e a falta de turistas na sequência da II Guerra Mundial ditaram o seu declínio, tendo a última viagem do comboio ocorrido em abril de 1943.
"O Monte é sempre visto como a Sintra madeirense", opinou Paulo Fafôfo, considerando que é "um espaço de requinte da cidade do Funchal" e "uma das freguesias mais bonitas da Madeira", que tem "uma parte natural e outra histórica", porque regista a passagem de figuras como o imperador Carlos da Áustria, que ali viveu e morreu.
O autarca destacou também o "potencial turístico enorme" daquela localidade, mencionando que é procurada por milhares de turistas que utilizam o teleférico e os tradicionais carros de cesto e visitam quintas, como a do empresário madeirense Joe Berardo.
"O que nos faltava ali era, na porta de entrada do Monte, o Largo da Fonte, uma receção para os milhares de turistas" que passam naquele local, afirmou.
Foi esta ideia que originou o projeto de recuperação da antiga estação do comboio, que está em avançado estado de degradação, referiu Paulo Cafôfo, acrescentando que o objetivo é repô-la ""como era originalmente".
O responsável adiantou que naquele edifício irá surgir "um espaço de memória, com uma interpretação histórica daquilo que foi e da importância que teve um transporte inédito para os madeirenses: um comboio".
"A ideia é a pessoa entrar para ir buscar uma informação e acabar logo por esbarrar na história", ficando a saber que "existiu um caminho-de-ferro do qual, neste momento, tendo sido desativado, não resta nada a não ser as três estações", informou.
Paulo Cafôfo salientou que "não será um museu", porque não existe material ou acervo suficiente, mas "um núcleo interpretativo de memória" com recurso a vídeos e imagem para "poder recriar aquilo que era um transporte utilizado no Funchal".
Um pequeno auditório e uma sala multiusos para atividades culturais e musicais, a antiga bilheteira transformada em cafetaria e uma esplanada que permita a "contemplação" daquele emblemático local são outros elementos incluídos neste projeto.
O presidente do município disse que ainda não tem um valor global para este investimento, estimando que ascenderá a 400 mil euros, e assegurou que o município quer "avançar com o projeto o mais rápido possível".
"Contamos, pelo menos, que no início do próximo ano isto esteja concluído", apontou.
Sobre um projeto de reconstrução do caminho-de-ferro do Monte, que chegou a ser pensado pelo anterior executivo municipal, liderado pelo atual presidente do governo madeirense, Miguel Albuquerque (PSD), Paulo Cafôfo considerou que "não é viável" e "ficou na gaveta, esquecido".
"Não está de maneira nenhuma nos nossos planos recriar o comboio ou termos um novo comboio", destacou, indicando que "iria estragar a memória histórica".
Paulo Cafôfo concluiu que o objetivo "é a recuperação do património, conservar a memória histórica do que foi o comboio e o romantismo do Monte".
Lusa