Este ano, a última aula dos alunos do ensino básico e secundário é dada mais tarde do que em circunstâncias normais e sem o habitual toque de saída, devido à pandemia da Covid-19 que, em 16 de março, obrigou ao encerramento de todas as escolas.
Nesse dia, turmas e professores trocaram as salas de aula pelas suas casas e só os alunos do 11.º e 12.º puderam, entretanto, regressar à escola para retomar as atividades presenciais das disciplinas sujeitas a exame nacional.
“Este 3.º período iniciar-se-á, como previsto, no próximo dia 14, sem atividades letivas presenciais. No ensino básico, do 1.º ao 9.º ano, todo o terceiro período prosseguirá com o ensino à distância”, anunciou o primeiro-ministro, António Costa, no dia 09 de abril.
A notícia não surpreendeu a comunidade educativa e, na altura, as estruturas sindicais representativas da classe docente elogiaram a decisão do Governo, mas nem por isso o ensino a distância deixou de impor constrangimentos no trabalho de alunos e professores.
Segundo os resultados de um inquérito feito em maio pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), mais de metade dos docentes não conseguiu chegar a todos os alunos durante o primeiro mês do 3.º período e a grande maioria (93,5%) admitiu que as desigualdades se agravaram em resultado do novo modelo de ensino.
Nesse período, escolas, autarquias e outras instituições juntaram-se para assegurar o acesso ao ensino dos alunos mais desfavorecidos ao ensino, através da distribuição de materiais de trabalho em suporte de papel ou do empréstimo de computadores, e o Ministério da Educação encontrou na RTP Memória uma forma de fazer chegar as aulas das várias disciplinas a casa de todos através da televisão, mas os diversos esforços não eliminaram todos os problemas.
Foi por reconhecer as dificuldades associadas ao ensino a distância que o Governo optou por estender a atividade letiva por mais três semanas do que inicialmente previsto, até ao dia de hoje, permitindo também que os alunos do ensino secundário tivessem mais tempo para se preparar para os exames nacionais, igualmente adiados.
O final do 3.º período é também assinalado pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que visitam hoje a Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, no Porto, onde os alunos do 11.º e 12.º se despedem do ano letivo.
Sobre o próximo ano, ainda pouco se sabe, além de que deverá arrancar entre 14 e 17 de setembro, datas avançadas na terça-feira pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.
Ainda assim, uma certeza apontada por pais, diretores escolares, professores e pelos próprios governantes é a de que o 1.º período do próximo ano vai ser, necessariamente, dedicado à recuperação das aprendizagens que ficaram por consolidar.
No mesmo dia em que anunciou as datas para o ano letivo 2020/2021, o ministro da Educação afirmou que as primeiras cinco semanas do próximo ano devem ser dedicadas à "recuperação e consolidação da aprendizagem" por parte dos alunos, mas os diretores escolares já sublinharam que é necessário assegurar condições para que isso seja possível.
Tanto o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) como o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) concordam que as escolas vão precisar de mais autonomia, em setembro, para gerir esse trabalho.
"O Ministério da Educação tem de confiar nas escolas e conceder-lhes a autonomia necessária para cada uma tomar as melhores decisões", disse o presidente da ANDE, Manuel Pereira, sublinhando que cada escola tem uma realidade diferente.
Em entrevista à Lusa, o antigo ministro da Educação Nuno Crato também abordou o tema, defendendo que os alunos mais prejudicados pelo ensino à distância vão necessitar de um "cuidado especial" no início do próximo ano letivo.
No entanto, o ex-governante reconheceu que, apesar dos problemas deste modelo, o trabalho remoto pode ser positivo se servir como um complemento ao ensino presencial.
O Ministério da Educação, que deverá estar a preparar o despacho normativo de Organização do Ano Letivo, ainda não informou se esse será, ou não, o cenário que vai marcar o 1.º período.
Para já, as tutela está a auscultar os vários representantes da comunidade educativa e, segundo os sindicatos de professores ouvidos na quinta-feira, o Governo demonstrou vontade em retomar de forma integral as aulas presenciais já a partir de setembro.
No entanto, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, lamentou ter saído do encontro com o Ministério da Educação sem conhecer propostas concretas para a organização do próximo ano, adiantando que houve um compromisso para voltar a reunir com os sindicatos.