De acordo com uma análise de duas analistas da Chatham House, a mais recente ameaça de recurso a armas nucleares feita por Putin, esta semana, tem ainda o objetivo de “influenciar o apoio público contra a Ucrânia”, incitando o medo desta hipótese.
As analistas Júlia Cournoyer e Marion Messmer, lembram que a doutrina nuclear russa determina que Moscovo apenas recorrerá a armas nuclear se houver uma ameaça à “integridade territorial” do país.
Contudo, com os referendos planeados que procuram anexar partes da Ucrânia, qualquer tentativa de Kiev de recuperar esses territórios pode ser enquadrada como uma ameaça à integridade territorial da Rússia.
“O impacto do uso de armas nucleares seria grave e exigiria uma resposta forte – e, portanto, poderia escalar rapidamente para se tornar uma guerra regional em grande escala e possivelmente uma guerra nuclear total”, conclui a análise do Chatham House.
Este documento realça ainda que, até esta semana, o caráter ambíguo das declarações vindas do Kremlin, procurava criar “uma incerteza desestabilizadora”, tentando “manter um equilíbrio cuidados entre ameaça e segurança”, de forma a que subsistisse sempre a dúvida sobre as reais intenções de Moscovo.
“Contudo, nesta última ameaça nuclear, Vladimir Putin também alertou que este não é um ‘bluff’, provocando dúvidas sobre se o barulho do sabre é um sinal de fraqueza ou de força”, realçam as investigadoras do Chatham House.
O documento de análise do ‘think tank’ com sede em Londres defende ainda que “haveria grandes riscos para a Rússia, se Moscovo detonasse mesmo que fosse apenas uma arma nuclear de baixo impacto numa zona rural da Ucrânia”, já que o impacto humanitário e ecológico de armas nucleares é devastador.
“O uso de armas nucleares na Ucrânia também provavelmente dissiparia o argumento de Putin de que a invasão russa visa salvar a Ucrânia, e o Governo russo arriscava-se a perder o apoio popular e internacional – além de provocar um ataque da NATO em retaliação”, dizem as investigadoras.
“O problema com as armas nucleares é que não há pequenos erros e a aposta é sempre significativa, tal como os riscos que coloca”, conclui o documento do Chatham House.
Lusa