"Junte mar abundante numa panela de magma a ferver. Eleve a temperatura a 130 milhões de anos. Aguarde. Deixe cozinhar lentamente. Contemple os deuses a esculpir no espaço etéreo as terras que emergem do oceano. Trabalham com a minúcia dos grandes chefes. Vagarosamente. Primeiro levantam-se as Selvagens e mais tarde o Porto Santo. Espere que o calor afague o preparo. Em lume brando crescem a Madeira e as Desertas. Reserve. Aprecie a iguaria a apurar no tempo.
Adicione três navegadores loucos e tempere com quimeras. Peça-lhes para darem novos paladares ao mundo. Regue com fé abundante e descubra a palavra coragem no olhar de Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo.
Polvilhe estas terras com sementes de esperança. Dê-lhe homens e mulheres com mãos perseverantes para colher o futuro. Verta nas suas montanhas, ribeiras de água fresca que bordam as encostas íngremes até às fajãs.
Quando estiver no ponto, salpique com vinho madeira os quatro cantos do globo terrestre. Brinde à declaração da independência americana. Acompanhe a solidão de Napoleão no exílio e Churchill a pintar as veredas sinuosas . Condimente com imaginação febril. Sinta o seu aroma pela pena de Shakespeare. Lamente a sua falta em “Crime e Castigo” de Dostoeivsky. Embriague-se com a natureza luxuriante a repousar no atlântico. Está pronto a servir.
Acompanhe com “A Festa” em manteiga d´alho e Bolo do Caco.
Terra que sabe à poesia de um beijo roubado ao mar".