Alimentar a população mundial com produção agrícola 100% biológica em 2050 só seria possível com o aumento da percentagem de áreas cultivadas ou com alterações na dieta das populações, indica um estudo divulgado hoje na revista científica Nature.
Para obter estas conclusões, os investigadores responsáveis pelo estudo basearam-se em modelos que estimam uma população de mais de nove mil milhões de pessoas em 2050 e um aumento necessário de 50% na produção agrícola para alimentar o planeta nessa altura, refere a Nature em comunicado.
De acordo com o estudo, para atingir esse objetivo em 2050 sem modificar o comportamento alimentar dos humanos, seria necessário aumentar de 13% para 33% as áreas cultivadas e o desmatamento passar de 8% para 15%, visto que a agricultura biológica gera menos rendimentos do que a agricultura tradicional.
Apesar dos impactos ambientais positivos dos alimentos biológicos, como o facto de não utilizarem pesticidas, os investigadores consideram que essa solução é "insustentável".
Por esse motivo, passaram a analisar outros cenários possíveis, variando a percentagem de agricultura biológica de parcial para total, juntamente com a adoção de algumas mudanças no comportamento alimentar, nomeadamente uma dieta com menos carne.
"A conversão para a agricultura biológica poderia atender à procura alimentar mundial, de forma sustentável, mas apenas se o desperdício de alimentos e a produção de carne forem reduzidos", acrescenta o comunicado da Nature, notando que os resultados podem ser diferentes tendo em conta especificidades regionais.
Segundo os investigadores, só seria possível obter 100% de produtos agrícolas biológicos sem aumentar a área cultivada se houvesse uma redução de 50% no desperdício de alimentos e a eliminação total das culturas destinadas à alimentação animal.
O resultado dessas medidas passariam por uma menor criação de gado destinado à alimentação e uma diminuição de 38% para 11% no consumo de proteína animal consumida pelos humanos.
Embora não indiquem qual seria o melhor cenário entre os apresentados, os investigadores sugerem que a implementação "parcial e combinada" de ambos poderia levar a "um futuro alimentar mais sustentável".
Estes resultados, no entanto, foram recebidos com algumas dúvidas por outros investigadores.
Os modelos utilizados no estudo, "simplistas em comparação com a vida real", contêm "muitas hipóteses que podem ou não ser verdadeiras", argumentou Les Firbank, investigador da Universidade de Leeds, no Reino Unido, na área agrícola.
Considerou, contudo, que os mesmos são "realistas o suficiente para ajudar a desenvolver políticas".
Segundo Martine Barons, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, com essas estratégias, a alimentação do ser humano seria significativamente diferente do que é hoje, com muito pouca carne de qualquer tipo e um grande aumento no consumo de vegetais".
"Como lidar com essa mudança?", questionou-se, evocando alterações nas normas culturais e sociais.
LUSA