“Não considero, e os meus advogados não consideram, ser possível considerar a nulidade do acordo parcial, porque o acordo foi feito de uma forma global, o que nessas circunstâncias me dá o direito de solicitar à TAP a minha readmissão como colaboradora da empresa, o que não estou a ponderar fazer”, afirmou a ex-administradora, na comissão parlamentar de inquérito à TAP.
Alexandra Reis reiterou que não consegue identificar as “razões específicas” para o seu afastamento da companhia aérea e que essa questão deve ser colocada à presidente executiva, Christine Ourmières-Widener.
“Ouvi que seria um tema de perfil. Não consigo entender as questões relacionadas com o perfil. Não consegui entender esse racional. Eu também o poderia dizer, mas não vou dizer. Eu também poderia dizer que a CEO poderia não ter o perfil, mas não o vou dizer de forma alguma. Não o vou dizer de forma alguma”, afirmou a ex-secretária de Estado, provocando gargalhadas na sala.
Alexandra Reis insistiu várias vezes durante a audição, que durou cerca de seis horas, na ideia que saiu, não só da administração, mas também da empresa, por vontade da presidente executiva.
Relativamente a pressões políticas, que Ourmières-Widener afirmou, na terça-feira, que existiam, Alexandra Reis rejeitou alguma vez ter sentido tais interferências, admitindo, no entanto, que a equipa sentia “escrutínio público” de uma empresa que tem um nível de atenção alto.
Já sobre a natureza da relação com a mulher de Fernando Medina, Stéphanie Sá Silva, que foi diretora jurídica da TAP, e se teria partido dela a recomendação para secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis referiu que se tratava de uma “relação estritamente profissional, mas muito boa”, admitindo ter tido dois “contactos pontuais e esporádicos” de ‘networking’ com a mulher do ministro das Finanças já depois de ter deixado a TAP.
“Nada disso implica que tenha sido de alguma forma recomendada, sugerida, ou que essa conversa não fosse sobre temas normais de pessoas que se conhecem em contexto profissional normalmente falam”, argumentou.
Relativamente à proposta comercial feita à TAP por uma empresa do marido de Christine Ourmières-Widener, Alexandra Reis explicou que o tema lhe foi sinalizado pela equipa de compras, não tendo sido realizado qualquer contrato e insistiu que o assunto não foi tema de conversa com a CEO.
Quanto à ida para a secretaria de Estado do Tesouro, Alexandra Reis considerou que não havia qualquer conflito de interesses pelo facto de ir tutelar a NAV Portugal – Navegação Aérea, empresa que liderava e da qual saiu para integrar o Governo, esclarecendo que não foi pedido qualquer parecer jurídico sobre esta questão.
Outro dos temas nos quais os deputados insistiram mais do que uma vez foi sobre a data exata do convite feito por Fernando Medina para integrar a sua equipa das Finanças.
Por mais do que uma vez, Alexandra Reis garantiu que nunca falou sobre a sua saída da TAP, nem sobre a indemnização nesta conversa com o ministro das Finanças, que aconteceu “três ou quatro dias antes” da tomada de posse como governante.
Quanto ao estatuto de gestor público, que abrange a TAP, mas que não foi seguido nas negociações do acordo de saída, Alexandra Reis disse que não questionou o advogado que então a assessorava, da sociedade Morais Leitão.
“Nunca fiz esse pedido, não é suposto. Quando peço a um advogado para me assessorar num processo de saída de uma empresa como a TAP, é um dado adquirido”, realçou.
Ainda sobre questões legais, a ex-administradora confirmou que o advogado que assessorou o acordo de saída pela parte da TAP foi o mesmo que lhe deu apoio jurídico na NAV.