A informação foi dada à agência russa Interfax pelo tribunal de Lefortovo, um distrito oriental de Moscovo, que tem a seu cargo o processo contra o jornalista, noticiou a agência espanhola EFE.
Gershkovich, 31 anos, foi detido na quarta-feira, 29 de março, na cidade de Yekaterinburg, capital dos Urais, por agentes do Serviço Federal de Segurança (FSB, antigo KGB).
Foi acusado de espionagem a favor dos Estados Unidos, o que fez dele o primeiro jornalista norte-americano a ser alvo de um processo por espionagem desde a Guerra Fria.
O caso foi classificado como secreto pelas autoridades russas, pelo que a informação que o FSB está a utilizar para acusar o jornalista de espionagem é desconhecida.
O FSB disse apenas que o jornalista foi acusado de ter “recolhido informações secretas sobre as atividades de uma das empresas do complexo industrial militar russo em nome dos Estados Unidos”.
Gershkovich negou as acusações, tal como o jornal norte-americano, que exigiu a sua libertação imediata.
O Presidente norte-americano, Joe Biden, também exigiu à Rússia a libertação de Gershkovich, cujos pais fugiram da União Soviética.
A detenção ocorre num momento de tensões entre o Ocidente e a Rússia sobre a guerra na Ucrânia e à medida que Moscovo intensifica a repressão contra ativistas da oposição, jornalistas independentes e grupos da sociedade civil.
O tribunal decretou a prisão preventiva de Gershkovic no âmbito do processo por espionagem, que lhe pode valer uma pena de até 20 anos de prisão, segundo a EFE.
Gershkovich era correspondente do WSJ para a Rússia, a Ucrânia e as antigas repúblicas soviéticas desde janeiro de 2022.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, apelou ao homólogo norte-americano, Antony Blinken, numa conversa telefónica no domingo, para “respeitar as decisões das autoridades russas, tomadas em conformidade com a lei e as obrigações internacionais da Federação Russa”.
Lavrov disse que Gershkovich “foi apanhado em flagrante delito ao tentar obter informações secretas, recolhendo dados que constituem um segredo de Estado” e fê-lo “sob o pretexto de trabalho jornalístico”.
Gershkovich foi encarcerado na prisão de Lefortovo, que data da era czarista e é considerada como um símbolo de repressão desde os tempos do líder soviético Josef Estaline.
Após a sua morte em 1953, continuou a servir de principal centro de detenção do KGB (sigla russa do Comité de Segurança do Estado), que a utilizava para suspeitos de espionagem e dissidentes políticos.
O prémio Nobel da Paz em 1970, Alexander Soljenítsin, autor de “O Arquipélago Gulag”, passou uma noite na prisão de Lefortovo em 1974, antes de ser expulso da União Soviética.
Antes de Gershkovich, o último jornalista norte-americano a ser acusado de espionagem tinha sido Nicholas Daniloff em 1986, que foi trocado três semanas depois por um cidadão soviético encarcerado nos Estados Unidos.
Lusa