Intervindo num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), sobre a deterioração da situação dos refugiados como consequência da agressão russa contra a Ucrânia, e imediatamente antes de apresentar um pacote de propostas hoje adotado pela Comissão em matéria de acolhimento de refugiados, Ylva Johansson sublinhou que, desde o início da invasão, já entraram no espaço comunitário “o mesmo número de refugiados que a UE recebeu no cômputo de 2015 e 2016”, período marcado por uma crise migratória.
A comissária especificou que “mais de um milhão de refugiados entraram na Polónia, quase meio milhão na Roménia, 170 mil na Hungria e 130 mil na Eslováquia”, sendo que “muitos dos que chegam vão rapidamente ter com familiares e amigos residentes em Estados-membros com maiores comunidades ucranianas”.
Ylva Johansson observou a propósito que, na semana passada, apenas “uma fração” dos que chegaram, designadamente 80 mil, pediram asilo, precisamente porque muitos têm familiares e amigos na UE, mas alertou que “esta situação pode mudar rapidamente, à medida que mais e mais pessoas fogem” da guerra.
“Os Estados-membros fizeram e estão a fazer um trabalho notável, a estabelecer e a implementar planos de contingência, a abrir novos pontos fronteiriços de travessia, e as autoridades locais estão a asseguram a receção dos refugiados e a prestar-lhes assistência médica, trabalhando lado a lado com voluntários e ONG” (organizações não-governamentais), realçou.
No entanto, alertou, é preciso fazer ainda mais, sobretudo para proteger as crianças, que poderão representar já nesta fase metade dos refugiados.
Admitindo que não se sabe ao certo quantas crianças já se refugiaram na União Europeia, a comissária estimou que perto de metade dos 2 milhões de refugiados sejam crianças, sendo que há muitas desacompanhadas, o que as torna muito vulneráveis e de alto risco de serem vítimas de redes criminosas, designadamente para tráfico de seres humanos.
“É nosso dever proteger estas crianças. Temos de fazer ainda mais. Elas precisam do nosso apoio porque isto não vai acabar em breve. [Vladimir] Putin está a conduzir guerra sem contenção, sem remorsos, sem piedade. O pior está para vir. Milhões mais vão fugir e nós temos de os receber. É um grande teste, mas poderemos superá-lo se mantivermos a mesma solidariedade a que temos assistido até agora”, concluiu.
O número de pessoas que têm fugido da Ucrânia desde que a Rússia invadiu o território, em 24 de fevereiro, já ultrapassou todas as perspetivas mais pessimistas, afirmou hoje mesmo o diretor-geral da Organização Internacional de Migrações (OIM), António Vitorino.
“Podemos dizer que estes primeiros 12 dias ultrapassaram as perspetivas mais pessimistas que nós tínhamos”, admitiu, em entrevista à agência Lusa.
Segundo o responsável da agência das Nações Unidas, o fluxo de refugiados – que, de acordo com a ONU, já contabiliza mais de dois milhões de pessoas – “é a mais significativa vaga de refugiados, superior àquela que se verificou em 2015 com a chegada dos sírios, através da Grécia, aos países da Europa Central e superior, decerto àquela que se verificou no final dos anos 90 do século passado, com a guerra nos Balcãs e a desagregação da ex-Jugoslávia”.
Também hoje, a ministra da Justiça e da Administração Interna garantiu que Portugal poderá receber dezenas de milhares de refugiados ucranianos com segurança e “sem risco de turbulência”.
“Temos uma comunidade ucraniana grande em Portugal, que está perfeitamente instalada, integrada e estabilizada, muitas das pessoas que vêm para Portugal têm familiares ou amigos que já cá estão e que lhes darão apoio na primeira fase”, afirmou Francisca Van Dunem.
Questionada sobre o número máximo que Portugal pode acolher, a ministra disse não ter ainda um número, frisando que o país está a trabalhar com a União Europeia na repartição de quotas por países.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que, segundo as autoridades de Kiev, já fez mais de 2.000 mortos entre a população civil.