“Temos que estar preparados para todos os cenários. Lamento dizê-lo, mas não posso dizer outra coisa: hoje temos que trabalhar com todos os cenários em cima da mesa porque o que acontece é que a ação de [Vladimir] Putin não apenas excede as suas palavras, a ação de Putin em cada momento está a exceder o máximo que prevíamos como possível nessa mesma ação”, sustentou Augusto Santos Silva.
Na reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República, que hoje debate o conflito na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros insistiu na necessidade de trabalhar “ao mesmo tempo em dois pilares”.
“O pilar da nossa própria defesa, que passa pela nossa própria capacidade de dissuasão, e o plano das sanções económicas e financeiras propriamente ditas”, acrescentou.
Santos Silva considerou ainda que “qualquer que seja o objetivo” da ofensiva russa, “ele é ilegítimo, é ilegal e é condenável”.
Em resposta ao deputado do CDS-PP Telmo Correia, o ministro disse ainda que “é muito difícil” saber qual será o objetivo final de Putin com esta agressão “dada a duplicidade de que o regime [russo] tem dado provas”.
Se um dos objetivos pudesse ser impedir a integração da Ucrânia na NATO, continuou, Santos Silva disse que essa “não é uma questão da agenda de hoje”, salientando que a integração de um novo país na Aliança Atlântica “é muito moroso”.
“E mesmo que o objetivo se quedasse na influência, no controlo, numa espécie de protetorado sobre essa região do Donbass isso não explicaria os termos absolutamente inacreditáveis em que é feita a declaração de guerra por parte da Rússia e que verdadeiramente o que faz é negar o direito da Ucrânia à existência e ameaçar todo o mundo de medidas, cito, que nunca antes foram conhecidas na história”, acrescentou.
Telmo Correia, do CDS-PP, quis sublinhar o facto de “um país amigo, soberano e livre” ter sido “atacado e vítima de uma agressão”.
“E isso tem toda a importância e obriga-nos a todos a ser solidários com a Ucrânia e com o seu povo. Só não vê isto quem achar que a União soviética não acabou ou quem achar que a Rússia ainda é soviética e quem achava ainda nesse contexto há poucas horas que a invasão era uma ficção”, argumentou.
O deputado centrista considerou ainda que esta “não é uma matéria para debate partidário”.
Apoiando o endurecimento de sanções económicas “que designadamente a UE venha a determinar”, Telmo Correia questionou se “de alguma forma” não se exagerou na possível eficácia destas sanções, “porque muitos responsáveis europeus ainda há pouco tempo diziam que com estas sanções talvez o senhor Putin recue, talvez não faça a guerra” e tal “não parece ter sido eficaz”
“E obviamente que as próprias sanções económicas levarão a alterações profundas no quadro europeu, designadamente em matérias como a da energia, onde se calhar os nossos próprios objetivos como a descarbonização poderão estar em causa numa situação que vai ser forçosamente de crise”, alertou.
Na resposta, sobre as sanções, Santos Silva chegou a citar o presidente do PSD, Rui Rio: “as sanções podem produzir a nós próprios dificuldades adicionais, mas vale a pena passar circunstancialmente por essas dificuldades para garantirmos o nosso objetivo essencial que é a nossa própria paz e segurança”
Telmo Correia considerou ainda importante que, no que toca aos refugiados deste conflito, Portugal volte a dar o exemplo.
“Acho que Portugal deve dar mais uma vez um extraordinário exemplo de humanismo na receção e na integração naquilo que será uma das maiores crises de refugiados na Europa e no mundo em muitos anos”, defendeu.
Lusa