"Para que toda a verdade fosse restabelecida, para que a confiança fosse restabelecida, era necessário que o médico que iniciou todo este processo fosse afastado durante um período suficiente para restabelecer a confiança", disse Regina Rodrigues.
A diretora clínica foi hoje ouvida na Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do SESARAM, onde o coordenador, Rafael Macedo, prestou também declarações em 20 de março.
O médico declarou, então, que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados" e apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
Rafael Macedo sublinhou em particular os serviços de Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia, referindo que funcionam "muito mal" e, por outro lado, apontou que havia "desvio deliberado" de doentes para o setor privado.
Regina Rodrigues classificou as declarações do coordenador e único especialista da Unidade de Medicina Nuclear de "graves, injustas, gratuitas e irresponsáveis", realçando que são "inéditas" no que diz respeito à relação entre pares.
"Esta direção clínica solicitou ao conselho de administração um pedido de instauração de processo disciplinar [a Rafael Macedo] que, felizmente, o conselho assim acatou", salientou, esclarecendo que em causa está a "dignidade e o bom nome" dos profissionais do SESARAM e, sobretudo, a confiança dos doentes.
Regina Rodrigues revelou que, nas últimas semanas, alguns utentes propostos para fazer exames estavam preocupados e pediram mesmo se não havia possibilidade de o fazer fora do SESARAM.
"Os nossos profissionais ficaram magoados e repudiam altamente estas declarações [de Rafael Macedo], mas isso também despertou nos doentes um sentido de desconfiança em relação à Unidade de Medicina Nuclear e ao único médico que temos nesta especialidade", reforçou.
A diretor clínica afirmou, por outro lado, que após a suspensão de Rafael Macedo, o SESARAM pediu a colaboração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra para a realização de exames, tendo efetuado cerca 50 exames de medicina nuclear entre 26 de março e 03 de abril, e encaminhando, igualmente, 25 utentes para a clínica privada de radioconlogia do grupo Joaquim Chaves Saúde.
"A primeira preocupação da direção clínica foi assegurar a realização dos exames aos doentes que nunca poderiam ficar prejudicados por esta decisão [de suspender o especialista]", afirmou Regina Rodrigues, indicando que é "prematuro" falar sobre o seu futuro no serviço público.
Rafael Macedo é também alvo de um processo de averiguações na Ordem dos Médicos, onde deram entrada várias queixas de colegas e do SESARAM.
O presidente da administração da Joaquim Chaves Saúde, José Chaves, revelou ter apresentado queixa no Ministério Público contra o médico.
A Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do SESARAM foi constituída a pedido do PSD, partido da maioria, após uma reportagem da TVI, emitida em fevereiro.
A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada instalada na região em 2009, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".
Entre 2009 e 2018, o Governo Regional da Madeira pagou 22 milhões de euros ao grupo Joaquim Chaves Saúde para a prestação de serviços, sendo que 1 milhão e 550 mil euros visou a área da medicina nuclear e o restante – mais de 90% – cuidados de radioterapia, um serviço que o setor público não dispõe.
C/ LUSA