A campanha foi feita de modo muito diferente pelos dois candidatos: enquanto o eurodeputado Paulo Rangel apostou nos tradicionais encontros por todo o país com militantes, o presidente do PSD anunciou que iria abdicar de fazer campanha como candidato, concentrando-se na oposição ao PS, e recusou debates com o seu opositor, por considerar que só beneficiariam os socialistas.
Rio manteve a agenda como presidente do PSD – teve ações como candidato apenas na Madeira, onde não tinha ido na campanha autárquica – e foi nesses momentos que foi falando para o país e para o partido, bem como em inúmeras entrevistas que deu à comunicação social, à semelhança de Paulo Rangel.
O tema da governabilidade esteve quase sempre no centro das diferenças entre os dois: o presidente do PSD e recandidato foi manifestando abertura para entendimentos com o PS que permitissem viabilizar governos minoritários de um ou de outro para, pelo menos, por meia legislatura, enquanto o eurodeputado nunca esclareceu se viabilizaria um Governo minoritário do PS, rejeitando teorizar sobre cenários em que o PSD fica em segundo lugar.
Rangel foi repetindo que o seu objetivo nas legislativas é “uma maioria estável”, de preferência absoluta, embora também admitindo governar em minoria.
Ambos aceitam coligações com CDS-PP e IL após as eleições – Rio admite ainda um entendimento pré-eleitoral com os democratas-cristãos, Rangel prefere ir sozinho a votos – e os dois rejeitaram que o Chega possa ser incluído no Governo.
O apoio da maioria do “aparelho” a Rangel é reconhecido pelas duas candidaturas, com Rio a manifestar-se confiante de que “o voto livre” estará consigo e Rangel a rejeitar essa dicotomia entre “militantes livres e militantes escravos”.
Rio acusou por várias vezes o seu opositor interno de não estar preparado para ser primeiro-ministro – pela proximidade inesperada de legislativas -, com Rangel a ripostar que não está pronto é para ser “vice-primeiro-ministro” do PS.
A campanha interna do PSD confunde-se com a crise política nacional, até no seu início, há quase mês e meio.
Depois de um resultado nas autárquicas de final de setembro que Rui Rio considerou “excelente” – e que passou pela recuperação de várias câmaras, incluindo a de Lisboa -, a direção marcou um Conselho Nacional para 14 de outubro para desencadear o processo de eleições internas, que há dois anos se tinham realizado em janeiro.
Na véspera da reunião, foi enviada aos conselheiros uma proposta de calendário eleitoral (diretas em 04 de dezembro e Congresso em janeiro), mas poucas horas depois – e após declarações do Presidente da República alertando que um ‘chumbo’ do Orçamento desencadearia uma crise política -, o presidente do PSD veio apelar à suspensão das eleições internas até tudo se clarificar.
Em 14 de outubro, o Conselho Nacional rejeitou, por larga maioria, a proposta formal de Rio para suspender o processo e foi também nessa reunião que Paulo Rangel confirmou a candidatura à presidência do PSD, um cenário que vinha ganhando força há alguns meses.
Na apresentação formal, um dia depois, em Lisboa, Rangel apontou como metas unir o partido, ser alternativa ao PS e “vencer as legislativas de 2023”, considerando então que a existência de uma crise política era “um cenário artificial”.
Rui Rio só anunciou a recandidatura uma semana depois, no Porto, que justificou com a “obrigação” de colocar o interesse do país e do partido à frente da sua vida pessoal e por não ser “facilmente entendível” que saísse num momento de crise política.
Na semana seguinte, em 27 de outubro, viria a concretizar-se o ‘chumbo’ do Orçamento do Estado para 2022 e a perspetiva de as diretas virem a escolher um candidato a primeiro-ministro a muito curto prazo não mais deixou a campanha do PSD.
Os dois candidatos defenderam datas muito diferentes paras as legislativas: Rio queria que se realizassem, no limite, até 16 de janeiro e Rangel que acontecessem apenas a 20 ou 27 de fevereiro.
Pelo meio, o eurodeputado teve uma audiência com o Presidente da República, encontro que classificou como “normal”, mas que foi recebido com surpresa e muitas críticas por parte de Rui Rio, que chegou a sugerir que uma data eleitoral mais tardia seria um favorecimento de Belém a Rangel.
Com a marcação das legislativas para 30 de janeiro, nova batalha por datas internas entre Rio e Rangel: num Conselho Nacional em Aveiro feito de avanços e recuos dos dois lados, o calendário eleitoral do PSD acabou por ser antecipado, com diretas para 27 de novembro e Congresso entre 17 e 19 de dezembro.
Nessa reunião, saiu derrotada a proposta de Rui Rio para abrir a votação a todos os militantes ativos (em vez de apenas os que têm as quotas em dia), ideia de que ele próprio tinha recusado há dois anos ao seu adversário interno Luís Montenegro, mas que justificou agora pela “situação excecional”.
Com este calendário, os novos órgãos do PSD serão eleitos na véspera do prazo limite para a entrega das listas de deputados, o que promete gerar polémica se for Rangel a vencer as diretas: este defende que deve ser o presidente eleito a conduzir o processo, Rio contrapõe que os estatutos dão esse poder à Comissão Política Nacional (a sua) e garante que não será por sua responsabilidade que o PSD não terá listas entregues em 20 de dezembro.
Cerca de 46.000 militantes do PSD estão em condições de votar nas eleições diretas do próximo sábado, com quatro distritais a concentraram mais de metade dos votos: Porto, Braga (que ultrapassou Lisboa no número de votos potenciais), Área Metropolitana de Lisboa e Aveiro, seguidas pela Madeira, com mais de 2.700 militantes inscritos.