A reunião, que arrancou pelas 17:30 de quinta-feira, num hotel no Porto, e se estendeu por quase onze horas, foi ensombrada pela discussão do método de votação da moção de confiança: secreto ou de braço no ar.
Durante toda a tarde e noite, os apoiantes do antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro – que acabou por não marcar presença no Conselho Nacional, apesar de estar a 500 metros, por não ter sido convidado – multiplicaram-se em declarações em defesa do voto secreto.
Já depois da pausa para jantar, a incógnita sobre o método de votação levou o líder do PSD-Lisboa, Pedro Pinto, a dar voz à indignação, lamentando que o requerimento a pedir o voto secreto, subscrito por mais de um décimo dos militantes, não tenha sido entendido como obrigatório e pediu a intervenção do Conselho Nacional de Jurisdição.
Perto das 02:00, registou-se o momento mais confuso e tenso do Conselho Nacional: os ânimos até se apaziguaram quando Rui Rio defendeu que a moção fosse sujeita a voto secreto, mas, logo em seguida, o presidente do Conselho Nacional, Paulo Mota Pinto, teve entendimento diferente e decidiu submeter o modelo de votação à decisão de todos os conselheiros nacionais.
Esta posição levou os membros do Conselho Nacional de Jurisdição – o chamado ‘tribunal’ do partido – a abandonarem a sala, acusando Mota Pinto de ter ignorado um parecer onde concordavam com o caráter potestativo do requerimento que pedia o voto secreto.
Foi então de braço no ar que a maioria dos conselheiros (78 a favor, 26 contra) defendeu que a moção de confiança a Rio devia ser apreciada por voto secreto.
Uma hora depois, os resultados davam uma vitória clara a Rui Rio: 75 votos a favor, 50 contra e um nulo, um resultado que realçou ser superior, em percentagem, aos 54% dos votos que conseguiu nas diretas.
Rio reagiu à vitória dizendo esperar que a partir de agora “remem todos no mesmo sentido”, para o PSD recuperar e ganhar eleições, e desejou que possa haver paz no partido.
Montenegro irá reagir pelas 12:00, num hotel em Gaia (Porto), mas, já esta madrugada, um dos seus apoiantes mais destacados, o ex-líder parlamentar Hugo Soares, recusou que o resultado signifique uma derrota, uma vez que tinham pedido a clarificação em eleições diretas.
"O partido estava adormecido e hoje está mais vivo que nunca", defendeu.
Ao longo da reunião, Rio ouviu críticas de conselheiros como Pedro Pinto, Hugo Soares, a antiga ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, presidentes de distritais como Pedro Alves (Viseu) e Bruno Vitorino (Setúbal), da líder da JSD Margarida Balseiro Lopes ou do antigo assessor político de Passos Coelho, Miguel Morgado.
O apoio mais inesperado – selado com um abraço – veio do seu antigo adversário Luís Filipe Menezes, que foi ao Conselho Nacional declarar apoio a Rio, defendendo ser tempo de “cerrar fileiras”, mas admitindo legitimidade a Luís Montenegro para fazer o desafio à liderança.
Outro apoio de peso surgiu do eurodeputado Paulo Rangel, que ficou ao lado da direção, e, no final, defendeu que o PSD saiu “claramente reforçado e clarificado”.
“Eu sempre fui muito favorável a que cada um possa expressar as suas opiniões e, portanto, que as pessoas que são críticas, se tiverem alguma coisa a criticar, vão dizendo, vão dizendo de quando em vez, acho bem, agora têm que estar ao lado do líder”, defendeu.
Há uma semana, o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro desafiou Rui Rio a convocar eleições diretas antecipadas e assumiu disponibilidade para se candidatar à liderança do partido.
Rio rejeitou o repto de antecipar as eleições – completou no domingo metade do seu mandato, um ano – mas pediu ao órgão máximo do partido entre Congressos que renovasse a confiança na sua Comissão Política Nacional, o que aconteceu.
Na sua intervenção inicial, o presidente do PSD criticou Montenegro por não ter estado disponível para se candidatar à liderança social-democrata há um ano e sugeriu que o antigo líder parlamentar nunca ganhou eleições, ao contrário de si próprio.
LUSA