Os chefes das diplomacias britânica e alemã, David Cameron e Annalena Baerbock, apelaram ao desanuviamento, durante a primeira visita de representantes ocidentais a Israel desde que o Irão lançou um ataque sem precedentes contra o território israelita, na noite de 13 para 14 de abril.
O ataque foi seguido de ameaças de retaliação cruzadas entre Israel e o Irão, num contexto de fortes tensões regionais desde o início da guerra entre Telavive e o Hamas, aliado de Teerão, na Faixa de Gaza, a 07 de outubro.
Enquanto as negociações para uma trégua estão a “estagnar” e se mantêm num “impasse”, segundo o principal mediador, o Qatar, o Ministério da Saúde do movimento islamita contabilizou hoje mais 56 mortos nas últimas 24 horas no território palestiniano sitiado e bombardeado diariamente por Israel.
O exército israelita e o Hezbollah libanês, outro dos aliados de Teerão, trocaram tiros de um lado e do outro da fronteira norte de Israel com o sul do Líbano, segundo o exército, um dia depois de um ataque com um ‘drone’ (aeronave não tripulada) contra posições israelitas reivindicado pelo Hezbollah.
Ao receber David Cameron e Annalena Baerbock, o Presidente israelita, Isaac Herzog, apelou a “todo o mundo” para contrariar a ameaça do “regime” de Teerão, “que procura minar a estabilidade de toda a região”.
O Irão, por seu lado, celebra hoje o Dia do Exército e reiterou que responderia “feroz e severamente” a qualquer retaliação israelita.
O ataque a Israel, segundo o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, foi “preciso, comedido e punitivo”, em resposta ao ataque fatal contra o consulado iraniano em Damasco, a 01 de abril, que Teerão atribui a Israel, que não comentou a acusação.
Quase todos os 350 ‘drones’ e mísseis lançados pelo Irão contra Israel, num total de 85 toneladas, foram intercetados pelo sistema de defesa aérea israelita, com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países aliados, incluindo a França e o Reino Unido, bem como a Jordânia e a Arábia Saudita.
“Não podemos ficar de braços cruzados perante tal agressão; o Irão não escapará ileso”, prometeu terça-feira o porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari.
A forma que essa retaliação poderá assumir, contra o território iraniano ou contra os interesses iranianos num país terceiro, permanece incerta.
Os Estados Unidos, aliado fiel de Israel, não hesitaram em deixar claro que não querem “uma guerra prolongada com o Irão” e que não se envolverão numa resposta.
A Casa Branca anunciou que iria impor, “nos próximos dias”, “novas sanções contra o Irão, envolvendo os programas de ‘drones’ e mísseis”, o Corpo de Guardas Revolucionários e o Ministério da Defesa.
A União Europeia (UE) está também a considerar alargar o âmbito das suas sanções, como afirmou na terça-feira o seu chefe da diplomacia, Josep Borrell. A ideia será alargar a outros tipos de armamento, como os mísseis, as sanções já aprovadas para proibir a exportação da UE para o Irão de componentes utilizados no fabrico de drones.
Na terça-feira, Baerbock apelou a novas sanções europeias, ao mesmo tempo que assegurava a Israel “total solidariedade” da Alemanha, tendo afirmado que pretendia discutir com os dirigentes israelitas formas de “evitar uma nova escalada”.
Hoje, Cameron disse à televisão britânica que espera que os países do G7, que se reúnem esta semana em Itália, imponham “sanções coordenadas” contra o Irão, acusando o país de estar por trás de “tantas atividades maliciosas” na região.
Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, as tensões têm vindo a aumentar no Médio Oriente, envolvendo Israel e o Irão e os respetivos aliados.
A República Islâmica, que apela à destruição de Israel, tem-se abstido até agora de o atacar frontalmente, e os dois países costumavam entrar em conflito através de terceiros, como os rebeldes Huthis, no Iémen, e o Hezbollah, no Líbano.
Após mais de seis meses de guerra em Gaza, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu na terça-feira combater “sem piedade” o Hamas, no poder no território desde 2007. Netanyahu mantém o plano de ofensiva terrestre contra Rafah, no sul da Faixa de Gaza, refúgio de milhão e meio de palestinianos.
A guerra foi desencadeada por um ataque sem precedentes, a 07 de outubro, por comandos do Hamas infiltrados no sul de Israel a partir de Gaza, que causou a morte de 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelitas. Mais de 250 pessoas foram raptadas e 129 continuam detidas em Gaza, 34 das quais morreram, segundo as autoridades israelitas.
Em represália, Israel prometeu destruir o Hamas, que considera uma organização terrorista, juntamente com os Estados Unidos e a UE, e lançou uma ofensiva que já causou 33.899 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Lusa