“Estamos extremamente preocupados com o que aconteceu e estamos a envidar todos os esforços para lidar com a situação e é óbvio que os saques e a violência foram instigados. Foi planeada e coordenada por pessoas”, disse o Presidente Ramaphosa, de visita ao centro comercial Bridge City Mall, na área de KwaMashu.
O chefe de Estado sul-africano, que se deslocou ao KwaZulu-Natal – principal província de apoio eleitoral do partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) – para avaliar o impacto da violência, referiu que “a Polícia está ao corrente da situação”, salientando que o Governo “identificou um bom número deles”.
“Não vamos permitir que haja caos e anarquia. Infelizmente, já se causou muita destruição no país e já pessoas perderam a vida”, acrescentou.
Ramaphosa referiu, no entanto, que as autoridades desconhecem “quais são as intenções dos instigadores que estão por detrás da violência”.
O Presidente sul-africano aplaudiu os cidadãos que “defenderam a democracia”, referindo-se à atuação de civis armados, que saíram à rua para defender comunidades, residências e negócios.
Na ótica de Ramaphosa, que é também presidente do ANC, o partido no poder desde 1994 na África do Sul, “a violência já não é sobre mobilização étnica”.
A ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, referiu na quinta-feira que as autoridades sul-africanas estão a investigar 12 pessoas, que o Governo considera serem os alegados "instigadores" da atual onda de violência, saques e intimidação no país, salientando que um dos suspeitos está sob custódia policial, sem avançar detalhes.
O vice-ministro da Segurança do Estado, Zizi Kodwa, referiu na quarta-feira que os atuais distúrbios violentos e saques em KwaZulu-Natal e Gauteng foram “bem orquestrados”, visando causar “sabotagem económica para desestabilizar o país”, segundo a televisão sul-africana SABC.
Zizi Kodwa salientou que as ações violentas foram planeadas por agentes de informação sul-africanos e outros quadros leais ao ex-Presidente Jacob Zuma.
Zuma, de 79 anos, ex-presidente do ANC, está preso desde 07 de julho no Centro Correcional de Estcourt, a cerca de 150 quilómetros da sua residência, em Nkandla, área rural do KwaZulu-Natal, por desrespeito ao Tribunal Constitucional.
Nos primeiros dias de protestos da atual onda de violência sem precedentes na África do Sul, cerca de 35 camiões foram incendiados na autoestrada N3 – um dos principais corredores de abastecimento alimentar e de combustível do país – ligando a províncias de Gauteng, motor da economia do país, e o KwaZulu-Natal, província no litoral do país vizinha Moçambique.
A violência que assola a África do Sul pelo oitavo dia consecutivo fez pelo menos 117 mortos e mais de 2.200 detenções até quinta-feira, segundo um novo balanço divulgado pela Presidência da República sul-africana.
Em Gauteng, província envolvente a Joanesburgo, a situação é agora descrita pelas autoridades sul-africanas como sendo “calma”, havendo relatos de tentativas de pilhagem durante a noite na periferia da capital económica do país.
Estima-se que vivam cerca de 450.000 portugueses e lusodescendentes na África do Sul, dos quais pelo menos 200 mil em Joanesburgo e Gauteng, e 20.000 no KwaZulu-Natal, mas segundo um conselheiro da Diáspora Madeirense no país não há cidadãos nacionais entre as vítimas.
Cerca de uma centena de negócios de seis grandes empresários portugueses, incluindo filhos de madeirenses, no setor alimentar e de bebidas, foram saqueados e vandalizados.
“O número de negócios afetados ronda uma centena, por exemplo, só o empresário Vicente Ferreira perdeu 28 negócios, grande parte no KwaZulu-Natal, e há uma série de outros grandes empresários no setor alimentar e de venda de bebidas alcoólicas que perfazem um grande número de negócios afetados”, disse à Lusa o conselheiro da diáspora madeirense na África do Sul, José Nascimento.
O advogado lusodescendente frisou que o impacto na comunidade portuguesa “é devastador”.
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou-se hoje preocupado com o impacto da crise social e pilhagens na comunidade portuguesa da África do Sul, salientando que “é uma realidade que está a ser acompanhada a par e passo pelo Governo português”.
Segundo o chefe de Estado, que falava na capital angolana, Luanda, “tem havido uma intervenção, nomeadamente do senhor embaixador, em coordenação permanente com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, prevenindo os portugueses, acautelando os portugueses, apoiando os portugueses”.
Distúrbios violentos, saques e intimidação intensificaram-se durante a madrugada de hoje na província do KwaZulu-Natal, onde vivem pelo menos 20.000 portugueses.
Entre os vários incidentes relatados na manhã de hoje pela imprensa local, destaca-se o mercado alimentar de Isipingo que foi incendiado durante a noite no sul da cidade portuária de Durban.