A governante participou na décima edição do Fórum GraPe (graduados portugueses no estrangeiro), que decorreu online, e discutiu as motivações que levam a um regresso, ou a querer continuar no país do acolhimento.
“Nós estamos atualmente com um problema, se calhar não vamos ter pessoas qualificadas para todos os projetos que vamos ter em mãos. (…) Há uma série de iniciativas que o governo coloca à disposição, mas por concurso”, sublinhou Elvira Fortunato.
A ministra da Ciência e Tecnologia realçou que todos os investigadores estão “convidados a regressar”, com Portugal a oferecer instrumentos, através das instituições do ensino superior, dos centros de investigação ou dos laboratórios colaborativos.
“Obviamente que são todos bem-vindos, mas não há nenhuma quota específica. Isso é feito por concurso e a contratação é feita com base nos currículos e experiência profissional”, adiantou.
Para a investigadora e musicóloga Inês Thomas Almeida, há uma “imensa precariedade na investigação". Depois de viver 13 anos na Alemanha, admitiu que, no seu caso, foi a família que a fez optar pelo regresso.
“É extremamente difícil para quem não tem o privilégio de ter outras fontes de ajuda, porque há uma precariedade, não só ligada à duração dos contratos de trabalho, mas também à dificuldade ao acesso aos contratos de trabalho”, sublinhou, acrescentando que os investigadores não estão “nem protegidos, nem amparados.”
A ministra da Ciência e Tecnologia realçou que “só é possível comparar aquilo que é comparável”.
“Se olharmos para o Produto Interno Bruto [PIB] português, nada tem a ver com o PIB do Reino Unido. (…) Noutros países há mais bolsas, há mais investimento em ciência porque há mais orçamento na sua totalidade”, apontou.
“Nunca houve uma aposta tão grande em investigadores como houve nos últimos anos. Falar em precariedade penso que não é o termo mais correto. Houve sim falta de investimento em laboratórios, infraestruturas e equipamentos. Isso sim”, rematou Elvira Fortunato.
Já para Ana Antunes, chefe de relações internacionais e eventos científicos da Mabdesign, uma associação do setor industrial francês de biomedicamentos, Portugal tem de estar preparado para os “nómadas digitais” que existem cada vez mais no país.
“É uma realidade que veio com a pandemia e vai continuar. É importante que haja um esclarecimento sobre os deveres e direitos dos trabalhadores que têm contratos lá fora, e não só em Portugal. A outra dificuldade é a nível administrativo e fiscal (…) Nem sempre é fácil aceder à informação”, apontou, acrescentando também as diferenças no sistema de saúde.
Ricardo Henriques, diretor de laboratório de investigação no Instituto Gulbenkian Ciência, realçou a comunidade científica “amigável e extremamente competente” existente em Portugal, país onde se faz “muito boa ciência, com muito pouco suporte”.
O Fórum GraPE nasceu em 2012, por iniciativa da PAPS (Portuguese American Postgraduate Society) e da PARSUK (Portuguese Association of Students and Researchers in the UK), às quais se juntaram a AGRAFr (Associação dos Graduados Portugueses em França), a ASPPA (Associação de Pós-Graduados Portugueses na Alemanha), a APEI-Benelux (Associação Portuguesa de Estudantes e Investigadores na Bélgica, Holanda e Luxemburgo), a AGRAPS (Associação de Portugueses Graduados na Suiça) e a SPOT Nordic (Associação de Portugueses Graduados nos Países Nórdicos).