"Em muito poucos dias, as primárias vão ser um marco cívico histórico, um momento de unidade nacional para nós, para os que têm ideias diferentes, para os que estão fora (do país) e para os que estão dentro”, disse Maria Corina à agência Lusa em Caracas, na sede do partido político Vente Venezuela (Vamos Venezuela), no contexto das primárias da oposição marcadas para este domingo.
“Será um momento verdadeiramente sublime, mas acima de tudo de construção de uma grande força política para enfrentar a próxima etapa, que estará cheia de desafios, de enormes barreiras e obstáculos que vamos derrubar um a um”, disse a fundadora do partido.
Questionada sobre a existência de uma “inabilitação” [desqualificação legal] que poderá impedir que participe nas eleições presidenciais, previstas para o segundo semestre de 2024, mesmo que ganhe as primárias, disse não estar preocupada com isso.
“A ‘inabilitação’ não é uma das barreiras que me preocupa. Há outras. Essa não será um problema. Eu vou-me inscrever e vamos derrotar Nicolás Maduro”, frisou.
A fundadora do Vente Venezuela lembrou que na Venezuela têm sido muito poucas as mulheres com altas responsabilidades na direção de partidos políticos ou em cargos de eleição popular.
“Não é fácil. As pessoas não imaginam o sacrifício que implicam para a família. É um trabalho que não tem hora e num país como a Venezuela, onde muito dos pesos caem sobre as mulheres que têm filhos”, disse, explicando que os seus cresceram com o medo do que poderia acontecer à mãe.
“Como o ataque do regime contra mim começou muito cedo, era uma das coisas que me preocupava, que ouvissem a notícia de que tinha sido atacada ou ofendida e não estivesse lá para lhes explicar”, disse.
Maria Corina Machado, apelido que herdou “de uma família de Portugal, com já vários séculos na Venezuela”, precisou que há quase 10 anos foi proibida de sair da Venezuela e que os filhos foram ameaçados, e por isso decidiu enviá-los para o estrangeiro.
Referindo-se ao anterior Presidente, (Hugo) Chávez, e ao regime do chavismo, acusou-os de “destruírem muitas vidas e separaram as famílias”.
“É inconcebível provocar intencionalmente a fome numa sociedade, e senti medo (…) que pudesse perpetuar-se, houve setores da sociedade que não compreenderam bem como enfrentar um sistema como este”, disse, justificando a sua candidatura e vontade de vencer nas primárias e depois na eleição para Presidente.
Em “24 anos de luta” foi-se preparando, declarou, e “hoje há um país que acordou, que se uniu de baixo para cima, e temos ido derrubando todas as barreiras que o chavismo ergueu para nos dividir”.
Por isso, confessou, emociona-se quando nos comícios se aproxima dela “gente do chavismo” e lhe dizem, envergonhados, que se deixaram enganar, mas que querem “que os filhos e netos cresçam numa Venezuela livre e de oportunidades”.
Sobre o Vente Venezuela, explicou que foi fundado há mais de 11 anos, que é “um partido liberal, não afiliado às estruturas convencionais”, que abraça o livre mercado, empreendimento e desenvolvimento do indivíduo.
Maria Corina insistiu que “o socialismo não funciona, que traz miséria, separação da família, medo e escuridão” e propõe fazer a Venezuela crescer económica, cultural e socialmente.
Outras propostas da favorita nas primárias da oposição às presidências incluem abrir os mercados, privatizar empresas e dar oportunidades a investidores nacionais e estrangeiros em diversos setores e transformar “a Venezuela no ‘hub’ energético das Américas”.
A opositora diz ainda que “há que compreender” que a migração de venezuelanos não vai parar enquanto Nicolás Maduro estiver no poder, “porque as pessoas precisam de ter esperança de que vai haver uma mudança”.
“No momento em que Maduro for derrotado, não apenas vai parar a migração, como muitos vão regressar”, acredita.
Lusa