Três candidatos luso-canadianos, dois pelo Partido Liberal e uma pelo Novo Partido Democrático (NDP), estão entre os protagonistas das eleições federais de 28 de abril no Canadá, num escrutínio amplamente marcado pela crise económica, tarifas impostas pelos Estados Unidos e o aumento do custo de vida.
Charles Sousa, Peter Fonseca e Sandra Sousa, todos com raízes portuguesas, concorrem em círculos eleitorais da região da Grande Toronto, onde a comunidade luso-canadiana mantém uma forte presença.
Para Charles Sousa, recandidato liberal por Mississauga–Lakeshore, estas eleições são “extremamente importantes”.
“Temos de proteger a nossa soberania, a economia e os programas sociais essenciais para os canadianos”, afirmou Sousa em entrevista à Lusa, apontando as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos como uma ameaça ao bem-estar da população e à unidade nacional.
Sousa foi eleito deputado federal em 2022, após já ter representado o mesmo círculo a nível provincial, onde desempenhou funções como ministro das Finanças de Ontário.
“Temos de manter o Canadá numa posição forte a nível internacional. O outro lado quer dividir, mas nós temos de estar unidos”, declarou, sublinhando a importância estratégica da região 905 para alcançar uma maioria parlamentar.
O círculo de Mississauga–Lakeshore, com quase 120 mil habitantes, inclui comunidades com presença significativa da diáspora portuguesa, embora os luso-canadianos representem cerca de três a quatro por cento da população local.
Também em Mississauga, no círculo de East–Cooksville, Peter Fonseca recandidata-se pelo Partido Liberal. Antigo maratonista olímpico e deputado federal desde 2015, Fonseca afirma que esta é “a eleição mais importante da sua geração”.
“As tarifas impostas pelos Estados Unidos estão a afetar a nossa qualidade de vida, os preços dos bens essenciais, as pensões e os empregos”, alertou, defendendo a necessidade de diversificar as relações comerciais com a Europa e a Ásia.
Sobre o papel de Mark Carney, novo líder liberal, foi claro: “É um economista de renome, ex-governador do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra. É a pessoa certa para dirigir o país nesta crise.”
Fonseca destacou ainda a contribuição dos luso-canadianos na construção civil, especialmente no contexto da crise habitacional, e recordou os esforços das primeiras gerações de imigrantes: “Vieram nos anos 50, 60 e 70, trabalharam arduamente e ajudaram a construir este país”.
Na Davenport, o círculo com a maior proporção de falantes de português no Canadá — mais de 17% segundo o recenseamento de 2021 — a engenheira Sandra Sousa é a nova aposta do NDP.
Filha de imigrantes portugueses, Sandra afirma que decidiu candidatar-se porque “está na hora” de a comunidade “ter uma voz forte e local em Otava”.
“A crise na habitação, o custo de vida e as alterações climáticas são os temas urgentes”, disse à Lusa, defendendo que “com a instabilidade global e as tarifas de Trump”, é preciso “investir nas pessoas”.
Sandra considera que só um Governo minoritário com um NDP forte poderá “garantir mudanças reais”, recordando que foram os sociais-democratas que negociaram os programas de creches a 10 dólares por dia, o plano de cuidados dentários e o avanço do plano nacional de seguro público PharmaCare.
“Cada voto conta. Os liberais venceram este círculo com apenas 76 votos de diferença nas últimas eleições. Em Davenport, voto Sandra Sousa”, concluiu.
Além dos candidatos, à agência Lusa, a ex-vice-presidente da Câmara de Toronto, Ana Bailão, também destacou a importância destas eleições.
“Com as tarifas, o Canadá enfrenta uma das maiores crises da sua história. É preciso alguém com experiência internacional e capacidade económica como Mark Carney para liderar”, afirmou.
Sérgio Ruivo, antigo presidente da Federação de Empresários Luso-Canadianos e contabilista, corroborou: “A ameaça à nossa soberania e à economia é real. Os canadianos estão unidos como nunca”.
No Quebeque, a deputada liberal Alexandra Mendès tentará um quinto mandato, representando o distrito eleitoral de Brossard–Saint-Lambert (Montreal), que ocupa desde 2015. Entre 2008 e 2011, foi deputada por Brossard–La Prairie.
O economista Carlos Leitão, ex-ministro das Finanças do Quebeque entre 2014 e 2018, é o candidato liberal por Marc-Aurèle-Fortin, em Laval, num regresso à política federal após ter deixado a política provincial em 2022.
A votação antecipada decorre até 21 de abril e já atraiu dois milhões de eleitores, um recorde no país, só no primeiro dia, na Sexta-Feira Santa.
Segundo a agência nacional de eleições, a Elections Canada, mais de 28 milhões de canadianos estão registados para votar.
No dia 28 de abril, os eleitores irão escolher os 343 deputados do Parlamento e o novo primeiro-ministro, num “confronto direto” entre o liberal Mark Carney e o conservador Pierre Poilievre.
Lusa