“Debilitar parte do regime de sanções contra a Federação russa em troca do restabelecimento do acordo dos cereais seria um triunfo da chantagem alimentar russa e um convite a novas vagas de chantagens por parte de Moscovo”, considerou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Oleg Nikolenko, na sua conta pessoal no Facebook.
O responsável ucraniano reagia à publicação no diário alemão Bild de uma carta que o secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou ao ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, onde sugere o levantamento de parte das sanções em troca do regresso ao acordo dos cereais.
A par das Nações Unidas, a Turquia foi um dos mediadores da Iniciativa do Mar Negro, acordo firmado em Istambul no verão de 2022 que permitiu a exportação de cereais por esta via marítima a partir de portos ucranianos. O acordo foi suspenso em meados de julho passado, após a saída unilateral de Moscovo.
A Rússia suspendeu o acordo após meses de críticas ao texto acordado, argumentando que os seus envios de produtos agrícolas e de fertilizantes estavam bloqueados pelas sanções ocidentais, impostas na sequência da invasão do território ucraniano em fevereiro de 2022.
A alegada proposta de Guterres incluiria o regresso dos bancos russos ao sistema internacional e movimento de capitais Swift, o fim do embargo a diversos investimentos russos na Europa e facilidade de acesso a portos europeus. O compromisso garantiria ainda que os navios russos não seriam atacados no mar Negro.
Desde o fim do acordo, a Rússia tem bombardeado intensamente os portos do sul da Ucrânia e seus silos de cereais, ao mesmo tempo que Kiev tem procurado rotas alternativas à exportação de produtos, para além de ataques a diversos portos e embarcações russas no mar Negro.
No seu comentário, Nikolenko solicita aos responsáveis internacionais que “continuem empenhados para que a Rússia volte a cumprir as suas obrigações” em vez e “reforçar a sua sensação de impunidade e estimular novas agressões com concessões”.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.
Lusa