Os dirigentes madeirenses do Bloco de Esquerda (BE) e do Juntos Pelo Povo (JPP) criticaram hoje as acusações do vice-presidente de que “todos partidos da oposição foram contra” a operação marítima do ‘ferry’ que terminou quarta-feira.
“Não podemos consentir que a mentira sirva de argumento político quando quem governa se vê ultrapassado pelos acontecimentos, tentando fazer esquecer que não cumpre as suas promessas integralmente”, declarou o responsável do JPP na Madeira, Élvio Sousa, em conferência de imprensa.
De acordo com este deputado, “a ligação ‘ferry’ foi sempre uma das bandeiras do JPP”, assegurando que a “luta vai continuar”, porque o JPP “não se revê neste modelo ‘a prestações’ de continuidade territorial, no qual os madeirenses são portugueses apenas durante três meses”.
Élvio Sousa realçou que o JPP “defende uma ligação por ‘ferry’ regular e anual, entre a Madeira e o continente, permitindo uma alternativa aos passageiros, sem custos absurdos sobre as viaturas e sobre a carga”.
O parlamentar sustenta que essa medida inviabilizaria “uma situação de monopólio ultra protegido, comprometendo o interesse público, em favor de interesses económicos”.
Na quarta-feira, o vice-presidente do Governo Regional da Madeira, Pedro Calado, marcou presença na iniciativa de despedida do ‘ferry’ “Volcan de Tijarafe", que efetuou a última viagem entre Canárias-Madeira-Portimão.
“Hoje [quarta-feira] quisemos saudar a operação como sendo muito positiva, mas relembramos que foi uma operação muito difícil de ser montada", disse Pedro Calado, sublinhando que no início "todos os partidos da oposição estavam contra".
O governante insular lembrou que o contrato assinado com o armador espanhol Naviera Armas é válido até 2020, sendo que, em cada ano, o navio "Volcan de Tijarafe" vai efetuar 24 viagens entre o Funchal e Portimão (12 em cada sentido), nos meses de julho, agosto e setembro.
Esta operação custa ao Governo da Madeira três milhões de euros por ano.
De acordo com o vice-presidente do executivo madeirense, “a população aderiu ao projeto”, sendo objetivo do Governo da Madeira “manter esta operação [retomada em julho de 2019] além do verão, como está contratualizada para os próximos dois anos, seja alargada a todo o ano".
Contudo, realçou que o Governo Regional não tem capacidade financeira suportar os custos sozinho, sustentando ser necessário o apoio do Governo da República e do Orçamento do Estado.
Por seu turno, o coordenador regional do BE, Paulino Ascensão, numa nota divulgada na Madeira, opinou que o “Governo Regional do PSD tudo fez para que a operação ‘ferry’ não existisse ou que fosse um fracasso e agora dá uma cambalhota e vem cinicamente festejar o sucesso da operação “.
Segundo o responsável bloquista insular, “foi o Governo Regional do PSD que inventou obstáculos ao ‘ferry’ que operou entre 2008 e 2011 – agravamento das taxas portuárias e entraves ao transporte de carga – até que finalmente conseguiu interromper essa operação”.
Também argumentou que o Governo Regional “montou uma farsa de concurso público, com limitações ao transporte de carga no caderno de encargos, com o intuito claro de afastar potenciais interessados e fazer crer aos madeirenses que a operação não é viável”, tendo por objetivo “proteger o monopólio que existe de facto nos portos e no transporte de carga contentorizada” no arquipélago.
“A adjudicação à Empresa de Navegação Madeirense (ENM) foi um fato à medida e o pagamento de três milhões por 12 viagens anuais, não é outra coisa que um tributo pago ao ‘dono do porto’ [Grupo Sousas] para que este permita a passagem do ‘ferry’”, destaca Paulino Ascensão.
O bloquista concluiu que a “operação foi um sucesso apesar de todos os esforços desenvolvidos pelo Governo Regional e pelo armador seu protegido para que fracassasse”, censurando o “puro cinismo” do Governo da Madeira ao festejar a situação e “a desfaçatez de exigir o pagamento pela República”.
LUSA