"O ataque que começou em 24 de fevereiro está a ter um enorme impacto nos direitos humanos de milhões de pessoas em toda a Ucrânia", afirmou Michelle Bachelet na abertura de um debate de urgência no Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a guerra na Ucrânia.
A Alta-Comissária alertou ainda a comunidade internacional para a ameaça nuclear a "toda a humanidade" devido ao conflito desencadeado pela Rússia.
“A elevação do nível de alerta para armas nucleares ressalta a gravidade dos riscos que pesam sobre toda a humanidade”, declarou Bachelet.
De acordo com o último balanço da ONU, 227 civis, incluindo 15 crianças, já morreram no conflito e 525 ficaram feridos, mas Bachelet alertou que os números reais são muito maiores.
"A maioria das baixas civis foi causada por artilharia pesada, múltiplos sistemas de lançamento de foguetes e ataques aéreos em áreas povoadas" e há "relatos preocupantes sobre o uso de armas de fragmentação a atingir alvos civis", sublinhou a Alta-Comissária.
Bachelet denunciou também que a cidade de Volnovaja foi praticamente destruída por bombardeamentos e que ainda há alguns moradores escondidos em caves.
"As operações militares estão a intensificar-se enquanto falamos aqui, com bombardeamentos sobre ou perto de grandes cidades", disse Bachelet, referindo cidades ucranianas, como Kiev, Kharkiv, Mariupol ou Kherson, no sul do país, que foi a primeira a cair às mãos das forças russas.
A responsável assinalou que desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, mais de dois milhões de ucranianos tiveram que deixar as suas casas.
Metade destas pessoas estão deslocadas na Ucrânia e mais de um milhão deixou o país e buscou refúgio em nações vizinhas, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
"O ACNUR estimou que até quatro milhões de pessoas podem deixar o país nas próximas semanas se o conflito continuar", disse Michelle Bachelet.
Os 47 Estados membros do Conselho de Direitos Humanos estão reunidos para um debate urgente sobre a guerra na Ucrânia, a pedido de Kiev, que elaborou um projeto de resolução a solicitar uma investigação internacional.
No final das discussões, que devem prosseguir na sexta-feira, a Ucrânia pretende a adoção de uma resolução sobre "a retirada rápida e verificável das tropas russas de todo o território” e pedindo o estabelecimento de urgência – por um período inicial de um ano – de "uma comissão internacional independente de inquérito", como a que existe para a Síria.
A Rússia lançou há uma semana uma ofensiva militar na Ucrânia com três frentes e recorrendo a forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades.
As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças. A ONU já deu conta de mais de um milhão de refugiados.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.