Durante a cerimónia anual em memória das vítimas do Holocausto na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, António Guterres mencionou o momento de divisão que o mundo atravessa, especialmente após o ataque do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, em 07 de outubro, no qual “tantos civis israelitas inocentes e cidadãos de outros países foram mortos”.
Na presença de sobreviventes do Holocausto e das suas famílias, e após um minuto de silêncio, Guterres defendeu a necessidade de “ouvir e aprender” com o que as vítimas têm a dizer, apelando à concertação de esforços para “condenar estes crimes terríveis contra a humanidade comum” e “erradicar o antissemitismo e todas as formas de intolerância, ódio e intolerância”.
“Unimo-nos em solidariedade e tristeza para prestar homenagem aos seis milhões de crianças, mulheres e homens judeus assassinados no Holocausto. (…) Lamentamos os milhões de pessoas torturadas, famintas e mortas pelos nazis e seus colaboradores. E, hoje em particular, reconhecemos a coragem das vítimas e dos sobreviventes”, disse, num discurso aplaudido pelos presentes no salão da Assembleia-Geral da ONU.
O ex-primeiro-ministro português recordou que o antissemitismo que alimentou o Holocausto “não começou com os nazis, nem terminou com a sua derrota”, afirmando que “foi precedido por milhares de anos de discriminação, expulsão, exílio e extermínio”.
“Inclusive pelo meu próprio país, Portugal”, disse.
O líder da ONU frisou que, apesar dos acontecimentos passados, o mundo continua a testemunhar a proliferação do ódio a “uma velocidade alarmante”, além da negação e a distorção do Holocausto.
“Cabe a todos nós defender a verdade e a nossa humanidade comum. Trabalhando juntos, devemos combater as mentiras e o ódio ‘online’. Devemos promover a educação sobre o Holocausto como uma parte crítica da nossa defesa contra a ignorância, a indiferença e a intolerância”, apelou.
“E, fundamentalmente, devemos ouvir os sobreviventes e devemos lembrar: essa demonização do outro e o desdém pela diversidade são um perigo para todos”, acrescentou Guterres, frisando que nenhuma sociedade está imune à intolerância.
António Guterres aproveitou ainda para exortar à libertação imediata e incondicional dos reféns ainda mantidos em cativeiro pelo Hamas na Faixa de Gaza.
O secretário-geral da ONU terminou a sua intervenção com uma mensagem de esperança para todos os que enfrentam preconceitos e perseguições.
“Digo claramente: vocês não estão sozinhos. As Nações Unidas estão com vocês”, concluiu, agradecendo a todos aqueles – do passado e do presente – que tiveram a coragem de partilhar as suas histórias do Holocausto, “para que o mundo possa conhecer a verdade”.
Na cerimónia de hoje, além de Guterres, sobreviventes do Holocausto partilharão os seus testemunhos juntamente com outros oradores convidados, incluindo o presidente da Assembleia-Geral da ONU, Dennis Francis, e o representante permanente de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan.
No sábado assinala-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, ou ‘Shoah’ em hebraico, que coincide com o aniversário da libertação pelo Exército soviético do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, em 27 de janeiro de 1945 na Polónia ocupada pela Alemanha nazi, após a eliminação pelo Terceiro Reich de um número calculado em seis milhões de judeus.
O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto foi instituído em 2005 pela ONU.
Lusa