Em declarações à imprensa após um encontro com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, Guterres começou por lamentar que as “instituições a nível global” estejam hoje “profundamente desatualizadas” e sejam incapazes de responder à “situação paradoxal” em que o mundo está colocado.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas referiu-se a desafios que “nunca foram tão sérios”, elencando a questão climática, “uma inteligência artificial que se desenvolve sem o mínimo de controlo”, e que tanto pode ter um enorme potencial como ser “uma ameaça existencial”, as desigualdades e injustiças e a multiplicação de conflitos.
Falando junto do chefe do Governo em declarações sem direito a perguntas da imprensa, António Guterres apontou igualmente a “reforma absolutamente essencial” das organizações internacionais como o Conselho de Segurança da ONU, o sistema de Bretton Woods da arquitetura financeira Internacional, ou da Organização Mundial de Comércio.
“Quero em particular dizer que, em todas estas batalhas, Portugal tem tido um papel ativo e mais do que um papel ativo, um papel influente e uma posição respeitada por todos os outros interlocutores, mesmo as maiores potências”, descreveu o antigo primeiro português, que se referiu ainda a um “país ponte, que aproxima os outros, quando estão desavindos”.
O secretário-geral da ONU elogiou igualmente Portugal “como um exemplo em relação às suas preocupações pela defesa dos valores fundamentais da Carta das Nações Unidas, do Direito Internacional e de uma maior igualdade e de uma maior justiça à escala mundial”, além da sua presença em várias operações de paz internacionais, salientando a missão na República Centro-Africana.
A força portuguesa neste país africano tem tido, segundo o dirigente da ONU, “um papel decisivo para a consolidação das instituições e para a promoção da paz no país e ganhou um extraordinário prestígio” entre os protagonistas desta crise.
O secretário-geral das Nações Unidas observou que, num momento em que os conflitos se multiplicam, “há uma sensação de impunidade, em que várias potências e até potências de pequena e média dimensão, “se podem dar ao luxo de fazer o que quiserem, sem que nada lhes aconteça, pondo em causa a paz e a segurança deles próprios e dos seus vizinhos”.
Neste quadro, comentou que “é absolutamente fundamental marcar a importância do respeito pelo Direito Internacional e dizer que esse respeito se tem de considerar como elemento essencial para a obtenção da paz”, voltando a referir-se a Portugal.
“É com o maior interesse que nós vemos o contributo que Portugal vai continuar a dar nos momentos que se vão seguir (…) Estou convencido que com o apoio de Portugal e daqueles que pensam como Portugal será possível enfrentar os desafios que temos pela frente e construir um mundo melhor do que todos necessitamos”, declarou.
Na sua passagem por Portugal, António Guterres reuniu-se também, na terça-feira em Cascais, à margem do Fórum Global da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, com quem discutiu as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, assim como questões climáticas, segundo o gabinete do secretário-geral da ONU.
Lusa