A confirmarem-se os resultados parciais hoje divulgados, o partido, que contava com 41,52% dos votos, poderá ter de aproximar-se de alguns dos movimentos mais pequenos que concorreram às eleições legislativas de quarta-feira, cada um dos quais tem atualmente entre 0,01% e 3% dos votos, porque rivalidades antigas com líderes de partidos maiores dificultam aproximações.
O maior partido da oposição, o Aliança Democrática (DA), obteve até agora 22,44% dos votos expressos.
Crítico do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido liberal, que promete erradicar a corrupção e “salvar” o país através da privatização e da desregulamentação, não fechou completamente a porta a uma coligação com o ANC.
O seu líder, John Steenhuisen, 48 anos, considera que uma aliança entre o ANC e a esquerda radical dos Combatentes da Liberdade Económica (EFF) ou o MK, do antigo presidente sul-africano Jacob Zuma, criaria uma “coligação apocalíptica”.
A promessa do DA de pôr fim à política de Empoderamento Económico dos Negros (BEE), aplicada desde o advento da democracia em 1994 e que permitiu a alguns sul-africanos fazer fortuna, poderá, no entanto, ser um obstáculo durante eventuais negociações com o ANC.
Uma coligação entre o ANC e o DA, diametralmente oposto às suas políticas progressistas de proteção social, parece “irrealista”, disse à AFP a analista Susan Booysen.
Mas “algumas vozes no topo do ANC estão a argumentar a favor de um pacto de confiança”, que envolveria a concessão de algumas pastas ao partido da oposição em troca da permanência do atual Presidente, Cyril Ramaphosa, no cargo, de acordo com Christopher Vandome, investigador do ‘think-tank’ londrino Chatam House.
O partido uMkhonto we Sizwe (MK) e o EFF, dois partidos radicais à esquerda do ANC, posicionados em 3.º (com 12,61%) e 4.º lugar (9,41%), respetivamente, na contagem divulgada ao final da tarde, são ambos liderados por antigas figuras do partido no poder.
Julius Malema, 43 anos, fundou o EFF depois de ter sido expulso do ANC, onde dirigia a liga da juventude, na sequência de ter sido acusado de fomentar divisões.
O antigo Presidente Jacob Zuma (2009-2018) só foi formalmente suspenso do ANC em janeiro, tendo o antigo chefe dos serviços secretos durante a luta contra o apartheid sido um pilar do partido histórico durante décadas.
“Não seria difícil para os três partidos formar uma coligação, uma vez que têm políticas e tendências semelhantes”, afirmou Siphamandla Zondi, professor de política na Universidade de Joanesburgo.
Mas as rivalidades de longa data entre Zuma e Ramaphosa, que lhe sucedeu, são “demasiado profundas”, disse Booysen. E as exigências da EFF, como a redistribuição de terras aos negros sem compensação e a nacionalização de setores inteiros da economia, são “demasiado erráticas e imprevisíveis”, acrescentou.
O partido de Zuma, criado há apenas alguns meses, acaba por ser a grande surpresa destas eleições, ao tornar-se a terceira força política do país, a confirmarem-se os resultados parciais hoje divulgados.
Segundo o perito Daniel Silke, os dias do todo-poderoso ANC estão mesmo a chegar ao fim: a paisagem política sul-africana mudou “significativamente” e o partido histórico “já não domina” o país.
Lusa