"Não se conseguiu esse acordo, mas a República Dominicana continua ao dispor, se for necessário, para um novo encontro", disse, durante uma conferência de imprensa, em Santo Domingo.
Segundo Danilo Medina, "o diálogo entrou num retrocesso indefinido", depois de ambas as partes terem concordado que as eleições presidenciais tivessem lugar a 22 de abril deste ano.
"A oposição não entendeu que estava obrigada a assinar e pediu mais tempo para uma revisão", tendo o Governo venezuelano entendido que "esse era o documento definitivo", frisou.
Por outro lado, o chefe de Estado explicou que "a oposição entregou um novo documento, mas o Presidente Nicolás Maduro disse que só assinará" o anterior (de terça-feira).
"Nós entregámos-lhe a nova proposta da aliança opositora Mesa de Unidade Democrática, mas sem a esperança de que seja assinada", frisou.
A imprensa local dá conta de que o Governo venezuelano proponha que as presidenciais tivessem lugar no próximo 18 de março e que a oposição insistia em garantias de eleições "livres, justas e transparentes", com observação internacional.
"Anunciámos que traríamos um documento detalhado para conseguir um acordo importante para ter eleições livres, justas, em que os venezuelanos tivessem a capacidade de decidir. Um documento equilibrado, para aumentar os direitos dos venezuelanos, mas recebemos a insólita notícia de que o Governo foi embora. Isso não tem cabimento com o sofrimento, ansiedade e angústia do povo. É verdadeiramente incrível", disse o porta-voz opositor aos jornalistas.
Júlio Borges acusou o Governo venezuelano de dar "passos absurdos" e insistiu que "só com um processo justo é que umas eleições são de confiança".
"Maduro não é dono da democracia na Venezuela. Devemos fazer o que está na lei e na Constituição", frisou, anunciado depois que a oposição tornará público, nas próximas horas, o documento "de proposta digna" que apresentou.
Segundo Borges, a oposição "nunca aceitará um acordo" que signifique fazer "claudicar" a democracia.
"Não podemos comprometer o futuro dos venezuelanos. Queremos que nos garantam comida, medicamentos, trabalho, segurança, voto e futuro. Essa é a nossa luta. Chamamos o povo a criar uma frente ampla para materializar esta luta", declarou aos jornalistas.
O Governo venezuelano e a oposição retomaram, na terça-feira, as negociações, que desde setembro de 2017 decorrem na República Dominicana.
Na semana passada, após quatro dias de negociações, o Governo venezuelano anunciou que tinha sido assinado um pré-acordo, situação que foi desmentida pela oposição.
O Governo venezuelano espera chegar a um acordo que permita acabar com a alegada "guerra económica no país" e leve à suspensão das sanções que os Estados Unidos e a Europa aplicaram contra altos funcionários de Caracas.
O regime espera ainda debater a soberania venezuelana e a alegada ingerência estrangeira em assuntos políticos e económicos venezuelanos.
Em cima da mesa vai estar também a criação de uma Comissão de Justiça e Verdade sobre a violência no país, que seria convocada pela Assembleia Constituinte, organismo que a oposição considera ilegal.
O Governo pretende ainda que a Assembleia Nacional (parlamento, onde a oposição detém a maioria), aceite várias decisões do Supremo Tribunal de Justiça, enquanto que a oposição insiste que a assembleia foi legitimamente eleita e deve ser reconhecida como tal pelo regime.
Por outro lado, a oposição insiste em conseguir garantias para a apresentação de candidatos às próximas eleições presidenciais antecipadas, que deverão ter lugar até 30 de abril de 2018.
A oposição espera ainda chegar a um acordo que permita libertar os presos políticos venezuelanos e que o Governo aceda à abertura de um canal humanitário para a entrada de alimentos e medicamentos no país.
Entretanto, dois dos países que acompanhavam as negociações, o México e o Chile, anunciaram, após a convocação de eleições presidenciais antecipadas, que deixavam de participar no processo.
LUSA