Durante toda a manifestação, a praça esteve rodeada por um forte perímetro de segurança, com carrinhas e polícias de choque a controlarem todos os acessos à praça, equipados com capacetes e escudos de proteção.
Muitas pessoas com máscaras foram atirando petardos e garrafas contra as forças de segurança, tendo incendiando lixos e bicicletas. Em resposta, a polícia lançou gás lacrimogéneo, acabando por dispersar, por volta das 00h00 (23h00 em Lisboa) a grande maioria da multidão que se encontrava na praça.
Antes destes confrontos, milhares de pessoas encheram a praça para celebrar a vitória da esquerda nas eleições legislativas, com bandeiras da coligação de esquerda Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês), assim como bandeiras de França, de Marrocos, Argélia ou com o arco-íris representativo do movimento LGBT.
Armande, de 30 anos, veio para a manifestação com um cartaz em que escreveu “Contamos convosco”, salientando que “quer muito” que a coligação de esquerda cumpra o seu programa, mas salientando que, na história recente, os socialistas não governaram à esquerda.
“Estou contente que a esquerda tenha ganho e que os partidos que se juntaram compreendam que as pessoas que votaram neles fizeram-no porque tiveram esperança de que funcionasse”, salientou.
Entre estes manifestantes, muitos apelaram a que a coligação de esquerda se mantenha nos próximos tempos e, sobretudo, que governe com base no programa com que se apresentou, com muita gente a recordar a “política de direita” que consideraram ter sido implementada pelo último Presidente da República socialista, François Hollande.
“Esperemos que as reformas que prometeram, sejam verdadeiramente implementadas. A esquerda tem de governar, mas tem de governar com verdadeiras ideias de esquerda e não perder-se como aconteceu com o Partido Socialista. Nós vamos estar aqui para verificar”, disse à Lusa Jonathan Alves, de 37 anos, e que veio para a manifestação com um lenço palestiniano à volta do pescoço.
Também Vincent, de 32 anos, diz que espera que, “por uma vez, os partidos sociais-democratas não traiam a sua palavra” e garantam que “regulam o capitalismo e repartam de outra maneira as riquezas do país”.
“Há um programa que permite dirigir o país e agora cabe ao senhor Macron render-se à evidência e aceitar o voto dos franceses, que votaram por este programa”, acrescenta, numa manifestação em que também se ouviram alguns pedidos de demissão do Presidente da República.
Para a maioria destes apoiantes da esquerda entrevistados pela Lusa, a vitória desta noite foi “completamente inesperada”. Clara, de 27 anos, admite mesmo que nem sequer ligou a televisão porque “tinha a certeza” que ia ver uma vitória da União Nacional. Mas agora disse que tinha quatro razões para festejar.
“A primeira é que a extrema-direita não teve a maioria absoluta, a segunda é porque não teve maioria de todo, a terceira é porque teve um resultado da treta e a quarta porque a esquerda ganhou. Por isso, estou aqui para celebrar esta vitória que vale por quatro”, salienta.
Já Michelle, de 67 anos, veio sobretudo à Praça da República festejar que hoje se tenha criado “a esperança numa mudança” no país e pediu agora que a esquerda faça política de “uma forma diferente”.
“É preciso fazer as coisas de maneira mais democrática. Acho que hoje surge a possibilidade de haver um Governo de esquerda, mas mais ao centro, e que governe de uma forma diferente da de Macron”, sublinhou.
Lusa