O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou na semana passada que o país suspenderia a sua participação no tratado New START, que obrigava tanto a Rússia como os Estados Unidos a procederem a comunicações regulares sobre o estado dos seus arsenais nucleares, permitirem inspeções periódicas às respetivas instalações e cumprirem os limites do número de ogivas destacadas e não-destacadas por cada uma das partes.
“A Rússia está mais uma vez a mostrar ao mundo que não é uma potência nuclear responsável”, declarou a subsecretária de Estado para o Controlo de Armamento, Bonnie Jenkins, numa sessão da Conferência sobre o Desarmamento, um fórum internacional ligado às Nações Unidas, a decorrer em Genebra, na Suíça.
A Rússia não se está a retirar do tratado, que está em vigor até 2026, mas Putin disse que Moscovo não pode aceitar inspeções norte-americanas das suas instalações nucleares enquanto Washington e os seus aliados da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) tentarem derrotá-la na Ucrânia.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo indicou que o país respeitará os limites impostos ao número de armas nucleares e continuará a notificar os Estados Unidos sobre testes de lançamento de mísseis balísticos.
As inspeções estão paralisadas desde 2020, por causa da pandemia de covid-19, e as discussões para retomá-las deveriam ter-se realizado em novembro passado, mas a Rússia cancelou-as abruptamente.
Jenkins disse depois à imprensa que os Estados Unidos ainda não avaliaram totalmente as consequências da suspensão comunicada pelo Kremlin, mas acrescentou: “Não estamos a ver quaisquer provas de que a Rússia esteja em incumprimento”.
“Continuamos dispostos a trabalhar afincadamente com a Rússia para aplicar na totalidade o tratado New START, assentando a aplicação contínua do tratado nos interesses de ambas as partes”, frisou.
O anúncio de Putin de suspender a participação de Moscovo no tratado ocorreu imediatamente antes do primeiro aniversário da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.
Putin tem repetidamente classificado o conflito como necessário para combater alegados objetivos do Ocidente para enfraquecer a Rússia e tem alertado para uma crescente ameaça de guerra nuclear.
O ex-Presidente russo Dmitri Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional russo, disse na semana passada: “Se os Estados Unidos querem a derrota da Rússia, nós temos o direito de nos defendermos com quaisquer armas, incluindo nucleares”.
“A Rússia tem de pôr fim a esta guerra e tem de pôr termo à sua irresponsável retórica nuclear”, declarou Jenkins.
A ministra dos Negócios Estrangeiros francesa, Catherine Colonna, também criticou fortemente a suspensão da Rússia do tratado New START na conferência de Genebra, descrevendo-a como “mais uma prova – se necessário fosse – do perigoso impasse em que a Rússia está a colocar-se”.
Lusa