Sem anunciar claramente o dia do tão aguardado escrutínio, o chefe de Estado turco referiu a sua realização exatamente “73 anos” após o triunfo eleitoral do Partido Democrata (conservador) em 1950, nas primeiras eleições livres da Turquia contemporânea.
As eleições estavam inicialmente agendadas para 18 de junho próximo, mas muitos observadores previam um escrutínio antecipado.
Diversas razões foram invocadas por editorialistas turcos para esta opção, entre as quais a economia em queda, mas também as datas das férias escolares e dos exames de admissão na universidade, previstos para junho.
No dia 14 de maio de 1950 deu-se a vitória de Adnan Menderes, figura emblemática para a direita conservadora turca, que pôs fim ao “reinado” do partido de Mustafa Kemal “Atatürk”, pai da Turquia moderna.
Menderes, fundador em 1946 do Partido Democrata, foi derrubado por um golpe de Estado militar em 1960 e executado um ano depois, e o seu partido foi dissolvido.
Erdogan, ele mesmo destituído e brevemente aprisionado quando era presidente da câmara de Istambul, nos anos 1990, compara-se com frequência a Adnan Menderes.
A escolha da data de 14 de maio para as eleições gerais envia, portanto, um sinal à ala conservadora do eleitorado.
“Menderes disse, a 14 de maio de 1950, ‘Basta, o povo terá uma palavra a dizer’ e saiu vitorioso das urnas”, sublinhou hoje Erdogan, numa reunião dos deputados do seu partido conservador islâmico, o AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), no poder desde 2002.
“A nossa nação dará a sua resposta à Mesa dos Seis (plataforma da oposição) no mesmo dia que há 73 anos”, acrescentou Erdogan, cujas declarações foram transmitidas pela televisão.
Recep Tayyip Erdogan, candidato à sua própria sucessão, tornou-se primeiro-ministro da Turquia em 2003, antes de alterar a Constituição e se tornar Presidente, diretamente eleito por sufrágio universal, em 2014.
A oposição anunciou a intenção de regressar a um regime parlamentar em caso de vitória.
A Mesa dos Seis é uma aliança eleitoral formada pelos seis partidos da oposição, incluindo o principal, o CHP (Partido Republicano do Povo, social-democrata), criado por Mustafa Kemal “Atatürk”.
Só o HDP (esquerda democrática, pró-curdo), terceira força parlamentar, não se juntou a esta coligação pré-eleitoral.