“Hoje, de coração extremamente apertado, decidi desvincular-me do PAN, após ter dado tanto de mim a este partido. Infelizmente, não consigo adiar mais esta decisão e apenas a tomo por não ver outra saída e por acreditar que, ao adiá-la, poderia vincar ainda mais as divergências existentes e ser mais prejudicial para o partido, para mim e para as causas com que continuo a identificar-me”, afirma a parlamentar numa nota enviada à agência Lusa.
Cristina Rodrigues diz já não conseguir “lidar com a forma como o PAN tem sido orientado” e considera não ser possível “inverter esse rumo através dos atuais mecanismos internos”.
“Fui sentindo cada vez mais a minha voz silenciada e a minha capacidade de trabalho condicionada, o que culminou com o meu recente afastamento da Comissão Política Permanente do PAN, feito à minha revelia e sem aviso prévio”, indica também.
A deputada refere igualmente que se mantém na Assembleia da República como deputada não inscrita afirmando acreditar que pode “fazer a diferença”, orientando-se daqui para a frente “pelos princípios e valores” que a levaram “à causa pública e ao desafio parlamentar”.
Além de deputada, Cristina Rodrigues integrava a Comissão Política Nacional (CPN) do PAN.
Entre os argumentos para a sua saída do partido, aponta que “já há algum tempo que a estratégia definida pela direção tem primado por um afastamento face a princípios estruturais do PAN” e fala numa “clara centralização do poder” em que deixou de haver "tolerância para com a diferença" e em que "qualquer opinião divergente é rotulada de desleal”.
"Passou-se de um discurso construtivo, positivo, imbuído da vontade de fazer pontes e de dialogar, para um discurso agressivo que chega a colocar em causa pessoas e não ideias, algo que contraria os estatutos do partido”, considerou a deputada, que era coordenadora do grupo parlamentar do PAN em várias comissões parlamentares.
Por outro lado, acusa a direção de “distanciamento face a medidas estruturais”, como o Rendimento Básico Incondicional, considerando que este tema “sempre viu a sua discussão bloqueada, algo que se tornou ainda mais evidente durante a primeira fase da pandemia”.
“O mesmo sucede com a causa animal. Embora continue a ser abordada, é-o de forma residual, deixou de ser uma causa prioritária para o partido”, critica, assinalando que também quanto à Lei do Clima, “uma das bandeiras de campanha do PAN”, não foi tomada “qualquer diligência para a fazer avançar” depois de baixar a comissão.
“Encontramo-nos no final da primeira sessão legislativa e o partido tem descurado a possibilidade de dar cumprimento a este ponto do seu programa”, insiste.
No comunicado enviado à agência Lusa, Cristina Rodrigues assinala que os exemplos que deu “são três de vários que denotam alguma quebra do compromisso assumido para com os eleitores”.
“Também os funcionários do partido se podem, justamente, sentir defraudados, pois o PAN não aplica internamente medidas que defende, como a redução do horário de trabalho e o direito à desconexão profissional”, acusa.
Na nota, a dirigente salienta que esta decisão incluiu-se no lote daquelas “profundamente difíceis de tomar” e refere foi o culminar de uma situação de “desgaste”.
A saída de Cristina Rodrigues acontece depois de o PAN ter perdido a representação no Parlamento Europeu, com a desfiliação (na semana passada) do seu único eurodeputado, Francisco Guerreiro, que era também membro da CPN.
No mesmo dia, também a deputada municipal em Cascais, membro da CPN e mulher do eurodeputado, Sandra Marques, se desvinculou desta força política. Já na quarta-feira, o PAN perdeu também a representação na Madeira depois de os membros da Comissão Política Regional do arquipélago terem deixado o partido.
Todos estes dirigentes deixaram críticas à atuação da atual direção do PAN, liderada pelo porta-voz, André Silva.