Sob o lema, “Levar o país a sério”, a XIII Convenção Nacional do BE regressa sábado e domingo ao pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, onde 654 delegados vão discutir a orientação política do partido e decidir quem vai assumir os destinos dos bloquistas após a saída de Catarina Martins.
Os bloquistas iniciarão assim um novo ciclo de liderança, numa altura em que enfrentam o desafio de uma bancada parlamentar reduzida depois dos maus resultados das legislativas antecipadas de 2022, que encolheu o financiamento do partido e obrigou a alterações na estrutura partidária.
Precisamente para fazer face a esta situação, o BE lançou no início de março uma campanha de angariação de fundos para financiar os trabalhos desta convenção, que traçou como objetivo aumentar o autofinanciamento e reduzir a dependência em relação ao financiamento público, tendo angariado, segundo a página doar.bloco.org, pouco mais de sete mil euros dos 80 mil pretendidos, ou seja, menos de 10%.
Para além das questões internas, as intervenções durante o fim de semana não deverão esquecer as críticas à maioria absoluta do PS e à atual crise política.
Ao contrário de outras reuniões magnas, em que havia mais moções em discussão, desta vez são apenas duas as que serão debatidas e votadas pelos delegados à convenção, para além de oito plataformas.
Subscrita por diferentes nomes da atual direção, incluindo a própria Catarina Martins, surge a moção A, intitulada “Uma força, muitas lutas” e encabeçada pela deputada Mariana Mortágua e que, uma vez que conseguiu eleger 81% dos delegados que irão votar, deverá sair vencedora desta convenção.
“Uma vida boa para todas as pessoas, sem exceção” é aquilo que move a moção de Mariana Mortágua, que promete que “o Bloco de Esquerda será a mais forte oposição ao Governo” e o PS criticado por ter encontrado “no crescimento do Chega a fórmula eleitoral para tentar salvar a sua maioria absoluta” uma vez que não consegue “oferecer soluções mobilizadoras”
Em debate estará ainda a moção E, sob o lema “Um Bloco plural para uma alternativa de esquerda – um desafio que podemos vencer!”, que terá como porta-voz à convenção o ex-deputado Pedro Soares, crítico da atual direção.
Os críticos defendem que é “preciso resgatar a ideia génese do Bloco” e apontam a ausência de balanço do “ciclo de perdas eleitorais e de diminuição de influência social”, considerando que a “campanha centrada no objetivo da repetição de um acordo com o PS foi um dos fatores de derrota” nas eleições de 2022.
Em 14 de fevereiro, Catarina Martins anunciou que ia deixar a liderança do partido, explicando que o que a fez decidir naquele momento “foi pensar que é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está", mostrando-se então tranquila com sucessão porque via no partido pessoas com capacidade e preparação.
Numa entrevista à agência Lusa, a ainda líder – que deixará a coordenação mas fica na Mesa Nacional e na Comissão Política – anunciou que vai deixar o parlamento no final da atual sessão legislativa depois de 14 anos como deputada.
Mariana Mortágua confirmou que seria candidata à sucessão e disse contar com "todas as pessoas que sentem que o Governo da maioria absoluta do PS desistiu e que só atira promessas para cima dos problemas".
A candidata à liderança do BE acusou o partido de António Costa de ter pretendido o "poder absoluto para deixar o país condenado ao desrespeito pela educação e pela saúde, consumido por quem especula com os preços, corroído pela corrupção e pela facilidade milionária dos favores".
No mesmo dia e também na sede do BE, o porta-voz da moção E à convenção, Pedro Soares, estabeleceu o objetivo de parar o caminho de "perda de influência política, social e eleitoral” do partido, através de uma mudança de rumo.
Hoje à noite, como é habitual na véspera do arranque da convenção, o BE promove no mesmo local uma sessão internacional que contará com as intervenções dos eurodeputados do partido, Marisa Matias e José Gusmão, bem como dos convidados Guilherme Boulos (PSOL) e Younous Omarjee (France Insoumise).
Lusa