Uma delegação de deputados portugueses que viajou para Londres em busca de esclarecimentos sobre o processo do ‘Brexit’ apenas encontrou incerteza e confusão, admitiu hoje em Londres o parlamentar socialista Sérgio Sousa Pinto.
O presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas (CNECP) da Assembleia da República disse que o objetivo da visita era "obter informações e fazer um ponto de situação".
Porém, após reuniões hoje com membros da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes esta tarde, concluiu que "os colegas estão muito baralhados e vivem dias de incerteza".
Sérgio Sousa Pinto confiou à agência Lusa que "as respostas são muito insuficientes porque os nossos colegas também estão a viver a mesma incerteza. O parlamento está virtualmente fechado. Os deputados estão absorvidos sobretudo com a questão da liderança do partido Conservador e do próximo primeiro-ministro".
O partido do governo britânico deverá iniciar o processo de eleição interna de um novo líder após a formalização da demissão de Theresa May na sexta-feira, cujo sucessor assumirá também o cargo de primeiro-ministro.
A única convicção que escutou de parlamentares britânicos de todos os quadrantes, incluindo de adeptos do ‘Brexit’, acrescentou o deputado socialista, foi o "desejo de que os interesses da comunidade portuguesa no Reino Unido não fossem postos em causa".
Além de Sérgio Sousa Pinto, viajaram Carlos Alberto Gonçalves e Paulo Neves, do PSD, Paulo Pisco e Marcos Perestrelo, do PS, João Gonçalves Pereira do CDS/PP e Maria Manuel Rola do Bloco de Esquerda.
Num encontro hoje com cerca de duas dezenas de representantes da comunidade na embaixada de Portugal, escutaram também manifestações de preocupação sobre o impasse em que se encontra o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
O ‘Brexit’ estava previsto concretizar-se a 29 de março, mas o chumbo por três vezes do acordo de saída negociado pelo governo britânico com Bruxelas forçou a prorrogação do processo até 31 de outubro.
Tiago Corais e Carla Barreto, vereadores locais em Oxford e Thetford, respetivamente, alertaram para o risco de os portugueses perderem o direito de votarem e serem eleitos nas eleições locais.
"No próximo ano será em Oxford e não sei se poderei ser candidato ou não", confessou, enquanto que a Carla Barreto foi-lhe perguntado após a eleição em maio por quanto tempo ia ficar em funções.
"É importante garantir os direitos políticos para não perdermos a nossa voz", afirmou.
Espanha já tem desde janeiro um acordo bilateral do reconhecimento do direito de voto e participação nas eleições locais dos seus cidadãos no Reino Unido, garantindo em troca as mesmas condições para os cerca de 300 mil britânicos que vivem em território espanhol.
Por enquanto, esta hipótese só foi prevista pelo governo português no plano de contingência para o ‘Brexit’ aprovado em março se as autoridades britânicas reciprocarem e também garantirem os direitos políticos aos portugueses.
No encontro de hoje, forem feitos alguns alertas para situações de vulnerabilidade de portugueses que poderão ter dificuldade em registarem-se como residentes no esquema aberto pelo Ministério do Interior britânico, nomeadamente idosos ou crianças indocumentadas ou ao cuidado dos serviços sociais.
O deputado do PSD, eleito pela Madeira, Paulo Neves, garantiu que "os portugueses podem não estar bem acompanhados, mas não estão abandonados" e vincou que nunca se falou tanto de comunidades portuguesas na Assembleia da República.
O atendimento insatisfatório do consulado-geral de Londres, que os deputados portugueses visitaram, foi referido, mas notado e elogiado o reforço de meios e a possibilidade de fazer marcações através do Centro de Atendimento Consular para o Reino Unido, conhecido por Linha BREXIT.
"Esperemos que esse trabalho continue e seja possível reduzir tempo para fazer passaportes de três meses para algo mais normal", suspirou o ativista Paulo Costa, do Movimento Também Somos Portugueses.
A delegação parlamentar segue na quinta-feira para Manchester, onde tem previstos mais encontros com membros da comunidade portuguesa e uma visita ao consulado de Portugal naquela cidade do norte de Inglaterra.
C/ LUSA