Comentadores nacionalistas russos e correspondentes de guerra dos ‘media’ estatais elogiaram o ataque de segunda-feira como uma resposta apropriada e há muito esperada à contra-ofensiva ucraniana das últimas semanas e ao ataque do passado fim de semana na ponte entre a Rússia e a Crimeia.
Vários desses comentadores argumentaram que Moscovo deveria manter a intensidade dos ataques de segunda-feira e outros sugeriram mesmo que o Presidente russo, Vladimir Putin, estava a assumir uma posição muito suave no conflito ucraniano.
Há várias semanas que os apoiantes de Putin pediam medidas mais drásticas no campo de batalha na Ucrânia.
Margarita Simonyan, diretora da televisão russa RT, financiada pelo Estado, chegou mesmo a questionar, nas redes sociais, qual deveria ser a resposta de Moscovo ao ataque à ponte na Crimeia.
“Este é um daqueles casos em que o país precisa de mostrar que nos podemos vingar”, escreveu Alexander Kots, correspondente de guerra do jornal tablóide pró-Kremlin Komsomolskaya Pravda.
O deputado russo Sergei Mironov, que lidera o partido Rússia Justa, fiel a Putin, usou a sua conta na rede social Twitter, no sábado, para dizer que Moscovo deveria agir de forma assertiva após aquele ataque imputado a Kiev.
“É hora de lutar! Ferozmente, até mesmo cruelmente. Sem olhar para trás, para as censuras do Ocidente”, escreveu Mironov.
A resposta surgiu na manhã de segunda-feira, quando a Rússia lançou simultaneamente dezenas de mísseis contra várias cidades ucranianas, incluindo Kiev, matando e ferindo dezenas de pessoas e infligindo danos sem precedentes a infraestruturas críticas da Ucrânia.
Pela primeira vez em meses, mísseis russos explodiram no coração da capital da Ucrânia, perto de prédios do Governo, e Putin apareceu em público a dizer que os ataques tinham sido uma retaliação ao que apelidou de ações “terroristas” por parte de Kiev.
“Aqui está a resposta”, reagiu a diretora da RT, na segunda-feira, após os ataques, mostrando-se satisfeita pela ação das forças russas na Ucrânia.
Nesse mesmo dia, Ramzan Kadyrov, o influente líder da Chechénia, disse estar “100% feliz” com o curso da “operação militar especial” do Kremlin na Ucrânia, nomeadamente pelas “medidas drásticas” decididas pelo Kremlin, insistindo no seu apelo para que sejam usadas armas nucleares de baixa intensidade contra as forças ucranianas.
Também o governador da Crimeia, Sergei Aksyonov, descreveu os ataques de segunda-feira como “boas notícias”, sugerindo que fosse mantida a intensidade da operação militar usada após o ataque à ponte na Crimeia.
O principal apresentador da RT, Anton Krasovsky, colocou mesmo um vídeo seu, na segunda-feira, a dançar numa varanda com um boné com a letra Z, o símbolo das forças militares russas.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,6 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.221 civis mortos e 9.371 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.