“Neste momento, o grande desafio dos partidos é ganhar eleições ou tentar maximizar os seus votos”, afirmou a professora e investigadora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP), em declarações à agência Lusa, realçando que este é um sufrágio que ocorre num contexto político extraordinário.
O Presidente da República anunciou, na quarta-feira, a decisão de dissolver a assembleia regional e agendar as eleições para 26 de maio, depois de ouvidos os partidos e o Conselho de Estado. A campanha eleitoral arranca duas semanas antes, no dia 12.
A crise política surgiu em janeiro, quando o presidente do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.
O social-democrata apresentou a demissão após o PAN, que assegurava a maioria absoluta à coligação na Assembleia Legislativa, ter-lhe retirado a confiança política, impondo a sua saída do executivo como condição para manter o apoio parlamentar, caso não houvesse novas eleições.
Teresa Ruel referiu que se segue agora o período de apresentação de candidaturas, sendo que ainda decorrerão congressos, designadamente no CDS-PP, que tem dois candidatos à liderança do partido (José Manuel Rodrigues e Lídia Albornoz), atualmente assumida pelo ainda secretário regional da Economia, Rui Barreto.
A professora disse também que neste momento ainda não é possível aferir “quão será fácil ou difícil” para o PSD “conseguir garantir a maioria dos votos”, argumentando que não se sabe ainda “qual a perceção relativamente a este caso de corrupção que fez provocar as eleições antecipadas”.
“O que sabemos é que, desde 2011, o PSD tem vindo a perder votos. Não quer dizer que os partidos da oposição tenham conseguido ficar mais próximo de ganhar a maioria dos mandatos, tem sido mais distribuído entre as várias forças políticas concorrentes, isso é o que sabemos”, acrescentou.
A investigadora em ciência política sublinhou que o “sistema partidário alterou-se” e recordou a estreia do Chega e da Iniciativa Liberal no parlamento regional após as eleições regionais de setembro do ano passado.
“Existem mais forças políticas em competição e isso pode traduzir um resultado também mais fragmentado”, disse.
Teresa Ruel admitiu, por outro lado, que o caso de suspeitas de corrupção que desencadeou a demissão do presidente do Governo Regional pode levar a um “apelo ao voto útil”.
“De notar também que PSD e PS apresentam os mesmos candidatos que em 2019. Pode ser também um elemento interessante a avaliar no momento da campanha eleitoral e depois nos resultados eleitorais”, salientou.
“A competição política parece que volta um bocadinho atrás no tempo, no sentido de encontrar aqui resultados semelhantes com as mesmas pessoas”, destacou.
A investigadora ressalvou, porém, que entre 2019 e 2024 “o mundo mudou e o próprio sistema partidário alterou-se”, com o surgimento de mais forças políticas, como o Chega “que tem vindo a capitalizar alguns descontentes, alguns votos de protesto e outras margens do eleitorado que se têm identificado com este partido”.
“E, portanto, também os partidos tradicionais têm de ter em conta este crescimento do Chega”, afirmou.
“Este agora é o início das hostilidades. Ao longo dos próximos meses vão surgir aqui novos dados, é prematuro avançarmos com uma análise mais detalhada”, concluiu.
Lusa