Maria Fernandes, natural de São Roque do Faial, há 51 anos na República Bolivariana da Venezuela, afirma que, apesar das dificuldades por que passa o país, só uma situação "limite" é que a faria regressar à ilha da Madeira.
"Espero nunca ter que tomar a decisão de deixar definitivamente a Venezuela", disse à agência Lusa, quando confrontada com a situação politica e económica do país de acolhimento, caracterizada pelo embate entre os partidários do atual governo de Nicolas Maduro e a oposição venezuelana, pela inflação alta, escassez e racionamento de bens de primeira necessidade e a falta de segurança.
Maria Fernandes, à semelhança de muitos madeirenses que na década de 1960 emigraram para os quatro cantos do mundo, partiu com a mãe, aos nove anos de idade, no navio Caribe C, para a República de Simon Bolívar, cumprindo, assim, o chamamento do pai que já se encontrava, há cerca de oito anos, estabelecido na Venezuela onde possuía uma "carniçaria", conta.
De férias na Madeira desde 4 de maio, onde passa todos os anos uma temporada de três a quatro meses, dependendo de "como vão as coisas", Maria Fernandes declara, sem hesitação, de que não foi a situação na Venezuela que a fez vir: "venho todos os anos à Madeira".
Reconhece, no entanto, que a situação naquele país da América do Sul "é difícil", apontando que "o que é mais grave é a falta de segurança e de medicamentos. Esta é a minha opinião".
"A comida está muito cara, há escassez de alimentos mas se hoje não se pode comer carne, come-se peixe, se amanhã não se pode comer peixe, come-se carne e, assim, se vai contornando, mas, os medicamentos, de toda a classe, é muito difícil de obter", observa, acrescentando que as pessoas sempre podem recorrer aos Estados Unidos "mas há que ter os dólares".
A par das dificuldades na aquisição de medicamentos, Maria Fernandes elege a "falta de segurança" como outro contratempo importante.
"O confronto político entre o Governo e a oposição e os malandros que roubam e matam são os dois aspetos da falta de segurança", realça.
Maria Fernandes diz, porém, que adora a Venezuela: "é um país que devo muito, ajudou os meus pais, a minha irmã nasceu lá, mas curiosamente a minha irmã está cá na Madeira e eu, que sou a madeirense, estou lá, tenho lá os meus filhos e os meus netos, é um país que adoro igual que adoro a Madeira".
Confrontada se não a surpreende que um país com os recursos que a Venezuela possui esteja na situação em que está, Maria Fernandes responde: "confusão faz mas, mais do que confusão, faz tristeza porque eu sempre digo, eu não sou emigrante, eu simplesmente tenho duas pátrias, adoro as duas, Portugal, e neste caso, a Madeira, e a Venezuela".
Esta madeirense radicada há 51 anos na Venezuela manifesta, no entanto, ter "esperança e fé que a situação vai melhorar porque é um país espetacular" e defende que "não importa que seja a oposição ou o oficialismo que esteja no poder, o que importa é que quem mande, mande para bem de todos os venezuelanos".
"Espero nunca ter que tomar a decisão de ter que deixar, definitivamente, a Venezuela, penso que seria a última coisa que faria e apenas numa situação limite em que visse que não íamos chegar a nada, mas tenho esperança", conclui.
A Venezuela enfrenta uma crise política desde o início de 2014 acentuada com a vitória nas legislativas de dezembro de 2015 da oposição, que pretende a organização de um "referendo revogatório" para destituir o Presidente Nicolas Maduro.