"A reconversão monetária anunciada pelo Governo é totalmente inviável nos prazos estabelecidos. Desta situação foram advertidas diversas instâncias, por técnicos qualificados que ficam ainda na instituição", explica.
Segundo o comunicado, "recolher mais de 15 mil milhões de peças monetárias [notas] e ao mesmo tempo pôr em circulação, até 04 de junho, pelo menos 5 mil milhões de novas peças é impossível".
Em 22 de março, Nicolás Maduro assinou um decreto que retira três zeros à moeda venezuelana, para "fortalecer" o bolívar, e anunciou que a partir de 04 de junho entrarão em circulação novas notas no país.
"Alertamos ao país que o Governo pode ter em mente criar um caos monetário, depois das eleições, para culpar a banca disso e desta maneira proceder a estatizar alguns bancos", afirma.
Segundo os trabalhadores do BCV, "isto calça perfeitamente com recentes atuações contra várias entidades bancárias às que se lhes acusa de falta de efetivo [notas] e de manipulação do dólar paralelo, quando a verdade é que não há efetivo devido à falta de impressão de bilhetes suficientes, devido à hiperinflação, enquanto que a depreciação do bolívar obedece ao financiamento que faz o BCV do défice fiscal".
Por outro lado, explicam que a hiperinflação e baixos salários estão "produzindo uma autêntica debandada laboral, no BCV, expressada na renúncia e reformas macivas em áreas centrais do banco, como as vice-presidências de estudos, de operações nacionais e internacionais"
"A isto, agrega-se um clima hostil no trabalho devido à transformação do BCV numa filial do Partido Socialista Unido da Venezuela, o que se traduz em perseguições a empregados que suspeitam que não comungam com a ideologia comunista. Gerências e departamento sensíveis estão a ficar vazios e desmantelados", afirma.
Desde 2017 que os venezuelanos queixam-se de falta de notas nos bancos da Venezuela, situação que tem obrigado as pessoas a acudirem a transferências eletrónicas para efetuar pagamentos, inclusive dos jornais que vão comprar ao fim de semana.
São cada vez mais comuns as longas filas nos bancos, para conseguir dinheiro, mesmo em quantias irrisórias.
Esta é a segunda reconversão monetária nos últimos 10 anos na Venezuela. Em 2008, o falecido Presidente Hugo Chávez (presidiu o país entre 1999 e 2013) tirou três zeros à moeda e substituiu o tradicional bolívar pelo bolívar forte, moeda que depois passou a ser chamada apenas como bolívar.
Os bancos estão a entregar, em bilhetes, o equivalente a 20.000 bolívares (Bs. 0,25 euros à taxa oficial) diários.
Um café custa 165 mil bs (2,01 euros), um jornal 15.000 bs (0,18 euros) e uma lata coca cola 200 mil bs (2,44 euros).
O salário integral (com todos os subsídios incluídos) dos venezuelanos é de 1.307.646 bolívares (15,99 euros).
LUSA