A SkyExpert, empresa de consultoria especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo, fez as contas: o plano aprovado pela Comissão Europeia permite à TAP manter 94 aviões (em vez dos anteriores 108) e obriga a companhia a abdicar de 18 pares de “slots” – faixas horárias de aterragem e descolagem sem as quais não existem voos – no aeroporto de Lisboa.
Ou seja, a frota manterá uma redução de cerca de 12% e os slots na Portela reduzirão em apenas 5% – e isso só a partir de Novembro de 2022. Até lá, as atuais regras europeias de aliviamento dos “slots”, permitem que a TAP mantenha o status quo relativamente à desproporcionalidade entre a redução da frota já efetuada e os “slots” ainda detidos…mas, e depois?
“A TAP não terá frota suficiente para os slots que tem”, afirma Pedro Castro, fundador e diretor da SkyExpert. De acordo com declarações públicas da CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener logo a seguir à decisão de Bruxelas ser comunicada, “temos de ter cuidado para não diluir ou correr riscos naquele que é o nosso principal ativo (aeroporto de Lisboa)”.
Para Pedro Castro, estas declarações da CEO significam que a TAP está consciente que não terá frota suficiente para os “slots” que detém e que já sabe onde vai sacrificar a sua operação: “desde logo, os 18 “slots” que terá de abandonar em Lisboa a partir de Novembro de 2022 não chegam. E como o objetivo é proteger a posição dominante da companhia na Portela, a única solução será retirar os aviões dos voos de outras rotas fora da base de Lisboa – atualmente, apenas os voos diretos entre Porto-Madeira, Porto-Açores e Porto-Europa/Intercontinental não usam “slots” relacionados com Lisboa. Essas rotas serão sacrificadas e a presença da TAP no Porto, Funchal ou Ponta Delgada passará a ser semelhante à que Faro tem há décadas: 2-3 voos diários apenas para Lisboa com o objetivo principal ou único de alimentar Lisboa com passageiros para outros destinos. Aliás, para além de Faro, é notória já a redução de destinos Europeus à partida do Porto e é igualmente notório que a TAP prefere deixar de servir uma rota doméstica como Porto Santo do que deixar de voar para destinos internacionais como as estâncias balneares de Fuerteventura nas Canárias ou Agadir em Marrocos, deixando a Ilha Portuguesa sem qualquer voo direto para o Continente.
No final, este tipo de operação não beneficia o País como um todo, mas não é essa a agenda comercial da TAP; essa foi apenas a agenda política comunicada para permitir justificar o financiamento público do Estado e para receber o aval de Bruxelas.