“Foram 800 mil toneladas anuais, em média, que deixaram de estar disponíveis no imediato”, destacou o diretor-geral Eduardo Diniz, na Bolsa de Mercadorias de Portugal (Portugal’s Commodities Exchange) organizada pela Associação Nacional de Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas (ACICO) e que, após dois anos de pandemia, voltou hoje a reunir-se presencialmente na Gare Marítima de Alcântara.
Eduardo Diniz enalteceu o “esforço enorme” e a capacidade para, "em tão curto espaço de tempo", procurar novas origens, manter a logística das operações a funcionar e garantir contratos para o abastecimento das indústrias, quer para a alimentação humana quer animal.
"É um esforço que merece o apreço de todos os portugueses e agradeço publicamente em nome do Ministério da Agricultura e Alimentação”, disse o diretor-geral do GPP, reforçando que o novo ministério "tem um foco e um empenho acrescidos” na vertente da alimentação e “uma visão abrangente” em toda a cadeia de valor.
“O mercado [alimentar] tem sido impactado nos últimos anos por repetidas crises sistémicas e em todas elas as ‘commodities’ agrícolas e alimentares experimentam e experimentaram períodos de volatilidade e incerteza, e trouxeram o funcionamento dos sistemas alimentares para a ordem do dia, quer na agenda política quer na agenda geoestratégica", afirmou.
Como exemplos recentes, referiu a crise financeira de 2008, a pandemia da covid-19 e, ainda mais recentemente, a invasão da Ucrânia pela Rússia, situações que diz terem evidenciado as fragilidades das cadeias de abastecimento e riscos de protecionismo, mas também a capacidade de adaptação e de respostas dos operadores do setor face a estes imprevistos.
Para o diretor-geral do GPP, a abordagem dos sistemas alimentares deve ser feita precisamente com base nestas interdependências e não se esgota nos intervenientes da cadeia de abastecimento alimentar propriamente dita, como os agricultores, pescadores, a indústria transformadora, comerciantes, retalhistas e serviços de restauração.
“Para que seja eficaz, esta abordagem tem de ter em conta todos os intervenientes que contribuem para o funcionamento da cadeia, como o setor dos transportes, da logística, bem como as industrias e operadores que transacionam matérias-primas e os fatores de produção e os materiais que acondicionam os alimentos”, defendeu.
Eduardo Diniz saudou o “papel fundamental” que os produtores de cereais e oleaginosas, assim como os responsáveis pela logística que envolvem as matérias-primas, hoje reunidos em Lisboa, tiveram nos últimos dois anos para assegurar o abastecimento nacional de matérias-primas.
“Recordo que estamos a falar de produtos em que as importações assumem um grande relevo”, afirmou, especificando os casos do milho com 2,1 milhões de toneladas anuais e o trigo com um milhão de toneladas de origens tão diversificadas como o Brasil, a Ucrânia, a Roménia, França ou o Canadá, entre outras.
Na abertura do encontro, o presidente da direção da ACICO, Miguel Costa, lembrou as dificuldades provocadas por dois anos de pandemia da covid-19, após os quais o início da guerra na Ucrânia, este ano, provocou no setor "uma tempestade perfeita", com efeitos nos stocks alimentares ou na "inflação galopante", mas enalteceu o que considerou a "resposta exemplar" da cadeia de abastecimento e da indústria nacional.
"Tudo foi feito para que nada faltasse", afirmou Miguel Costa, reconhecendo, no entanto, que a situação do mercado "continua tensa" e explicando que o objetivo do encontro de hoje foi o de analisar o que está a acontecer.