A presidente da Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN), hoje ouvida na Comissão Parlamentar de Saúde, a pedido do PSD, por causa da falta de medicamentos, sublinhou a importância de aumentar as quotas dos genéricos, frisando que estes não chegam aos 50% e que Portugal tem "uma diferença de entrada no mercado" de cerca de 30 anos relativamente aos países nórdicos e à Alemanha.
“Temos feito um caminho grande, mas não temos conseguido (…) e os motivos estão bem claros: o cidadão usa o medicamento genérico, adota-o, tem eficácia, tem segurança e tem uma redução de custos. Temos agora os farmacêuticos e os médicos prescritores para trabalhar com eles, para conseguirmos ultrapassar a falta de confiança que eles ainda têm”, afirmou Maria do Carmo Neves.
A responsável disse ainda que a ambição da APOGEN é chegar aos 60% de quota do mercado nos próximos dois a três anos e, quanto a poupanças conseguidas com os genéricos, lembrou que, nos últimos anos, ultrapassou os 5.000 milhões.
“Isto dá para dois anos de fatura de medicamentos no Serviço Nacional de Saúde, quer em ambulatório quer em ambiente hospitalar”, disse a responsável, lembrando que a poupança conseguida no ano passado (509 milhões de euros) “dava para construir dois hospitais Lisboa Oriental”.
Quanto às roturas de medicamentos, Maria do Carmo Neves admitiu que sempre houve, mas alertou que os motivos têm crescido e por situações que tornam a realidade “mais dramática”.
E exemplificou: “Há 30 anos, estas roturas eram por problemas de qualidade (…) que eram resolvidos em três ou quatro meses. Se nessa fase faltava o medicamento que tinha exclusividade no mercado, outra molécula o substituiria”.
“Hoje já não é bem assim”, explicou a presidente da APOGEN, aludindo à transferência da produção da Europa para a Ásia, designadamente para a Índia e a China, e concluindo: “Nestes 30 anos a Europa ficou sem uma única fábrica de síntese química. Não é fábricas de produto acabado, o problema passa-se a montante, na origem, nas matérias-primas que entram na constituição dos medicamentos”.
A responsável classificou esta dependência da Europa como “um problema assustador” e apontou igualmente as revisões de preço dos medicamentos “sempre em baixa” para lembrar que muitas empresas perdem o interesse comercial e deixam de produzir.
Reconhecendo que as roturas não de verificam apenas nos medicamentos genéricos, mas são transversais, lembrou que estas têm “um denominador comum”: “Preços à volta dos cinco euros”.
“Se a formação do preço não tem um item em que absorva o custo que vamos progressivamente ter (…) o produto torna-se inviável comercialmente”, insistiu a presidente da APOGEN.
Disse ainda aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde que apenas há duas roturas nos medicamentos mais caros: “Os semaglutidos e os liraglutidos, que as pessoas usam para irem para a praia”, afirmou, referindo-se aos antidiabéticos que têm sido também usados igualmente para emagrecer.
Maria do Carmo Neves disse igualmente que cerca de 30% das AIM [Autorizações de Introdução no Mercado] foram retiradas por falta de interesse comercial e sublinhou que se tem falado muito nos problemas de falta de medicamentos nas farmácias comunitárias, mas pouco na área hospitalar.
“Só temos falado no ambulatório, mas a parte hospitalar é mais dramática ainda”, frisou.