No seu primeiro relatório sobre a dívida mundial, publicado hoje, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) sublinha que o recorde anterior de 15,4 biliões em 2020 se verificou num exercício excecional devido ao recurso maciço à despesa pública dos Estados para enfrentar as consequências da crise.
Caso a emissão de dívida soberana pelos países da OCDE atinja o novo recorde de 15,8 biliões de dólares este ano, isso significará um aumento em termos reais de quase 45% em relação a 2019 e de 25% em relação a 2022, adianta a OCDE.
O aumento da emissão que será necessário este ano não se explica pelo facto de os governos irem colocar mais títulos de dívida novos no mercado (3,2 biliões de dólares, depois de 3,6 biliões em 2022 e 7,3 biliões no pico em 2020), mas por terem de refinanciar obrigações que vencem em 2024.
Concretamente, terão de refinanciar 12,6 biliões de dólares, quando antes da pandemia eram cerca de 7 biliões de dólares por ano e que ultrapassaram a marca de 10 biliões de dólares desde 2021.
O ‘stock’ total da dívida dos 38 países da OCDE aumentou até 54 biliões de dólares em 2023 e deve crescer para 56 biliões de dólares este ano, um aumento de 30 biliões de dólares desde a crise financeira de 2008.
Só os Estados Unidos representam metade deste montante, ou seja, o seu peso relativo duplicou desde 2008, não só devido ao aumento da dívida da primeira potência mundial, mas também devido à valorização do dólar face a outras moedas.
No final do ano passado, os países da UE representavam 20% da dívida pública da OCDE, o Japão 16%, o Reino Unido 6% e os outros membros 9%.
No final de 2023, a dívida pública dos membros da organização representava cerca de 83% do PIB (Produto Interno Bruto) no seu conjunto, um aumento de 30 pontos percentuais desde a crise financeira, embora a espiral inflacionista dos últimos anos tenha contido este aumento em termos relativos.
Uma das particularidades desta expansão da dívida é o facto de uma parte significativa ter sido mantida pelos bancos centrais com compras maciças de títulos soberanos.
Estes têm em carteira obrigações no valor de 30% do PIB dos membros da OCDE.
A questão é que esses mesmos bancos centrais tencionam agora desfazer-se de uma parte desses títulos, o que implica que o mercado terá de absorver um volume recorde de obrigações e que os investidores privados são mais sensíveis ao rendimento.
Os autores do estudo salientam que a alienação dessa dívida soberana pelos bancos centrais terá um impacto no mercado de dívida das empresas, com um maior aperto das condições financeiras.
O volume da dívida das empresas também aumentou desde a crise financeira, passando, em termos reais, de 21 biliões de dólares a nível mundial em 2008 para 33,6 biliões de dólares em 2023.
A distribuição geográfica alterou-se significativamente, em particular porque as empresas chinesas, que representavam menos de 1% do ‘stock’ em 2008, aumentaram a sua quota no final do ano passado para quase um quinto do total.
A OCDE observa que, embora as empresas tenham alargado o prazo de vencimento dos seus títulos de dívida, o endurecimento das condições monetárias a partir de 2022 terá consequências.
Concretamente, terão de as refinanciar a taxas mais elevadas, e isto tendo em conta que nos próximos três anos (até ao final de 2026) vencerão 37% da dívida das empresas, 12,3 biliões de dólares.
No caso da dívida soberana, 40% terá de ser refinanciada no mesmo período.
Lusa