A presidente da Associação de Comércio e Indústria do Funchal (ACIF), Cristina Pedra, disse hoje que o pré-aviso de greve dos estivadores no Porto de Lisboa está a prejudicar empresas e consumidores na Madeira.
Desde 14 de novembro, o Sindicato dos Estivadores tem vindo a entregar sucessivos pré-avisos de greve, mas estes trabalhadores ainda não cumpriram qualquer dia de paralisação, o que só acontece quando e se os empregadores contratarem "trabalhadores estranhos à profissão", isto é, que não integrassem o contingente efetivo e eventual a 15 de setembro.
Em declarações à Lusa, a dirigente da ACIF lembrou que a greve atingiu o Natal, período em que se verifica uma maior procura por parte dos consumidores e em que as empresas de distribuição, comércio, restauração e hotelaria apostam numa maior aquisição de mercadorias.
"Temos conhecimento de que houve mercadorias que não foram despachadas, apesar de encomendadas pelas empresas devido à greve no porto de Lisboa e outras chegaram mesmo depois do Natal, encontrando-se, por isso, depositadas em armazéns", referiu.
Cristina Pedra sublinhou que "muitos stocks não foram repostos porque a mercadoria acabou por ser descarregada só no mês de janeiro e, assim, a procura não pôde ser satisfeita e as empresas ficaram com mercadorias em mãos que, agora, têm mais dificuldades em escoá-las porque os índices de consumo já não são tão elevados como no período de Natal".
A presidente da ACIF realçou ainda que a situação continua em janeiro, havendo já empresas fornecedoras e alguns supermercados com ruturas de stocks.
"Continuamos a ter os mesmos problemas, há transtornos, prejuízos para empresas e consumidores e os problemas são sentidos transversalmente na região", referiu.
A dirigente da ACIF destacou, no entanto, o esforço dos trabalhadores no porto do Caniçal, na Madeira, que "de dia e noite e ao sábado têm trabalhado de forma a minimizar os custos de operação dos navios".
A associação está preocupada com o eventual incumprimento da frequência (de duas vezes por semana) da deslocação de porta-contentores entre Lisboa e o Caniçal, bem como com os transtornos da deslocalização de carga de Lisboa para o porto de Leixões e deste para a Madeira.
O pré-aviso de greve dos estivadores vigora até 31 de janeiro.
Hoje decorre a primeira reunião de negociação entre sindicato e operadores do Porto de Lisboa.
Em dezembro, o Sindicato dos Estivadores considerou que estivadores estão a ser "vítimas de uma campanha de difamação", explicando "a verdade dos factos" do congestionamento de navios que se tem agravado no Porto de Lisboa.
Em declarações à Lusa, o dirigente sindical António Mariano disse que os estivadores estão a ser "o bode expiatório" de uma situação que não provocaram, porque "se todo o trabalho portuário no Porto de Lisboa se mantivesse tal como estava em 14 de setembro, mesmo com o pré-aviso de greve em vigor, estaria a funcionar normalmente".
Desde então, explicou, deixaram de ser colocados na escala de trabalho 50 trabalhadores eventuais, que há oito anos prestavam trabalho exclusivo no Porto de Lisboa, por não terem aceitado a mudança do contrato proposto pelos empregadores.