“A literacia financeira e digital hoje em dia é uma formação básica, é uma competência básica que tem que ser adquirida na escola. Hoje em dia já não é suficiente saber ler, escrever e contar para sobreviver, portanto, no fundo para ter uma vida prática é necessário ter a parte financeira, também”, disse Vítor Bento na apresentação da Estratégia de Literacia Financeira Digital para Portugal, em Lisboa.
O presidente da APB referiu que hoje em dia “está tudo mais desmaterializado e as próprias componentes financeiras são elas todas muito mais sofisticadas”, pelo que há uma necessidade maior de desenvolver estas capacidades.
Já o diretor-geral da Educação, Pedro Cunha, assinalou que as crianças e os jovens “não têm consciência” de que são tomadas muitas decisões de forma irracional.
“Nós tomamos decisões económicas com base em vieses, com base em impulsos, com base em crenças e em perceções, e isto os nossos jovens não sabem. Eles são habituados e são ensinados e são educados a tomar decisões. Desde muito cedo que eles são preparados para planear e para agir e para refletir sobre aquilo que fazem, o que eles não sabem é que o nosso cérebro nos trai todos os dias”, afirmou Pedro Cunha durante a sua intervenção.
De igual forma, o diretor-geral da Educação apontou que os jovens tomam, cada vez mais cedo, decisões de natureza económica, num cenário de crescente digitalização e facilidade de acesso e, nesse sentido, defendeu que a literacia “pura e dura” é tão importante como a literacia digital ou financeira.
“Nós temos que ser capazes – todos – de ler e compreender textos complexos, ler e compreender textos que foram feitos para que nós não os compreendêssemos bem, ler e compreender as entrelinhas. Para isso é preciso continuar a aposta que temos feito, uma aposta sólida de consolidação daquelas que são as aprendizagens básicas, essenciais e basilares, sem as quais nada resultará”, insistiu.
Pedro Cunha considerou que um mecanismo como o Plano Nacional de Formação Financeira pode ter benefícios, também, junto dos pais e dos mais velhos, tendo feito o paralelismo com as campanhas de reciclagem.
Há cerca de 25 anos foram as crianças e os jovens que ensinaram esta sociedade a separar lixo. Foram as crianças e os jovens que em casa disseram aos seus pais, aos seus avós e avós que lhes disseram, não é aí, é no azul ou no amarelo e no verde.
Pedro Cunha elencou dois esforços que têm de ser tomados: a cobertura e a profundidade.
No caso do primeiro, disse que este “está ganho”, remetendo para o alcance de iniciativas nas escolas.
“É tremendamente difícil chegar às populações ‘hard-to-reach’ [difíceis de alcançar], mas é tremendamente fácil chegar às crianças e aos jovens. Temos o ensino público, gratuito e universal. É uma conquista, temos que a valorizar e temos que ser capaz de a utilizar da melhor forma”, apontou.
“Agora temos de ganhar o esforço da profundidade, e o esforço da profundidade é garantir que não só todas as crianças e jovens, algures no seu percurso passam por conteúdos que têm a ver com literacia financeira, mas ganhar um segundo desafio, que é o desafio de tornar endógeno este conteúdo”, referiu o diretor-geral, pedindo que se recorra mais a exemplos concretos no ensino.