As imagens em campo mostram com clareza tudo o que aconteceu e o problema está aí – a emissão não foi interrompida, após o dinamarquês Eriksen ter caído inanimado no chão, o que gerou críticas de muitos fãs. E até figuras influentes do meio futebolístico vieram defender o caráter dos jogadores dinamarqueses, que criaram um “escudo humano” em redor do companheiro de equipa, enquanto este era reanimado e as imagens eram transmitidas nas televisões.
A polémica instalou-se rapidamente. No momento da própria transmissão o Twitter era inundado com fãs incomodados com o que estavam a ver e que pediam que a transmissão fosse cortada de imediato.
À volta de Eriksen, um “escudo humano”. Além da equipa médica que o rodeava, também os colegas de equipa criaram um círculo em torno daqueles centímetros de relvado, para tapar o que se estava a passar e impedir que fossem recolhidas imagens aproximadas para todo o mundo ver. Apesar do escudo, porém, de vários ângulos era ainda visível o jogador deitado no chão a receber compressões.
Na hora de colocar o jogador na maca, também um fã finlandês cedeu uma bandeira nacional para que se escondesse o jogador naquele momento, para que não fosse visto nem pelas câmaras nem pelos milhares de adeptos no estádio.
Outro dos momentos filmados e criticados foi também quando Sabrina Kvist, namorada do atleta e mãe do pequeno Alfred, filho que têm em comum, entrou em campo depois do sucedido e, chorosa, foi reconfortada por alguns companheiros de equipa de Eriksen, Simon Kjaer e Kasper Schmeichel.
BBC. “A cobertura feita em estádio é controlada pela UEFA”
A BBC já veio pedir desculpas por ter transmitido os momentos da reanimação. “Pedimos desculpa a todos os que não se sentiram bem com as imagens transmitidas”, disse um porta-voz. “A cobertura feita em estádio é controlada pela UEFA que é a transmissora anfitriã, e assim que a partida foi suspensa, retirámos do ar a cobertura o mais rápido que nos foi possível”.
Por outro lado, responsabilidades são também pedidas a quem estava atrás das câmaras nas filmagens no estádio. Em declarações ao L’Équipe e perante as críticas à transmissão, o realizador do jogo Dinamarca-Finlândia, Jean-Jacques Amsellem, diz que foi necessário captar a emoção vivida no estádio no momento, mas que “não lhe chamaria voyeurismo“.
Questionado sobre se teria recebido diretrizes da UEFA sobre um possível protocolo para estas situações, Amsellem afirma que o produtor estava em contacto com a organização que deu instruções claras.
Foi-nos dito para não fazermos close-ups, para não filmarmos massagem cardíaca, mas que não havia problema em filmar a emoção envolvente”.
“Como podem imaginar não há um manual para este tipo de coisas. Houve um momento de câmera lenta onde o conseguimos ver cair de forma clara, mas eu indiquei imediatamente às minhas equipas para não se focarem nele, nem a filmarem-no mais. Com mais de 30 câmaras no estádio podíamos ter continuado a fazê-lo, mas em nenhum momento fizemos planos focados nele”, responde ainda ao diário francês.
Durante o que se seguiu, eu de facto captei alguns dos dinamarqueses em lágrimas porque era necessário mostrar essa angústia. Também vemos a emoção dos finlandeses, dos fãs, mas não acho que tenhamos feito nada obscuro”, disse o realizador
O realizador parece desvalorizar as críticas dos fãs que se insurgiram contra a transmissão. Ao L’Equipe, disse que se fossem apenas feitos planos gerais do campo “não mostraria a emoção”. Jean-Jacques Amsellem acrescenta que, além da tristeza sentida por todos no estádio, também o momento de união dos companheiros de equipa perante a situação de grande ansiedade tinha de ser mostrado.
“Se alguém me tivesse dito: ‘mantém-te com o grande plano’ eu tê-lo-ia feito. Mas o mais importante, francamente, é que ele está bem”.
As reações e os pedidos de consciência
“Esta manhã falámos com Christian Eriksen, que enviou cumprimentos aos seus companheiros de equipa. A sua condição está estável e ele continua hospitalizado para exames adicionais”, escreveu no Twitter a Associação Dinamarquesa de Futebol, numa publicação este domingo, 13.
“A equipa e o todo o staff da seleção estão a receber assistência de crise e vão continuar a estar lá uns para os outros depois do incidente de ontem”, acrescentam. “Queremos agradecer a todos pelas sinceras mensagens de apoio a Christian Eriksen de fãs, jogadores, família real da Dinamarca e de Inglaterra, associações internacionais, clubes, etc”.
O jogador foi levado na noite de sábado já consciente para o hospital depois de ter sido reanimado em campo durante largos minutos, tendo saído ventilado mas de olhos abertos e até cabeça ligeiramente levantada. Eriksen mantém-se assim hospitalizado no Rigshospitalet, em Copenhaga, até novas informações.
Hérculez Gómez , ex-jogador de futebol profissional americano e atual comentador na ESPN, parabenizou os colegas de equipa por terem criado uma bolha em redor de Eriksen, bloqueando-o das câmaras.