"Feitas as contas julgo que o balanço deste ano de arbitragem é positivo, embora saiba que se valorizam sempre demasiado os erros e se esquece que em muitos jogos as equipas de arbitragem tiveram atuações positivas", disse o ex-internacional de arbitragem, em entrevista à agência Lusa.
Ainda assim, Marco Ferreira admite que, apesar de estar no seu segundo ano de implementação, o VAR está ainda longe de ser uma ferramenta perfeita.
"Existem afinações a fazer, mas também sabemos que não dependem só da nossa vontade. Há passos que estão a ser dados no sentido de melhorar, mas não podemos esquecer que fomos pioneiros e isso tem um preço. Tem de haver alterações, mas o balanço tem de ser sempre positivo. Para mim, a partir do momento em que o VAR tenha permitido alterar uma decisão completamente errada, já é importante", realça Marco Ferreira, que considera que as federações nacionais deviam ter mais autonomia para rever o protocolo do VAR e assim evitar alguns embaraços.
Com 81 jogos arbitrados na I Liga, Marco Ferreira aposentou-se no final da época de 2014/2015, mas tem bem presente os critérios que presidem à análise na arbitragem, acentuando que é aí que reside grande parte do problema.
"Todos gostamos de futebol, mas ninguém gosta dos erros, embora se diga que são normais. Infelizmente, o que se valoriza são os erros que acontecem. É verdade que há erros inadmissíveis, mas não podemos esquecer que o fator humano está sempre presente", lembra o antigo internacional, avançando também que é pouco sério avançar com conclusões sem olhar aos jogos das equipas ditas mais pequenas.
Com o aproximar do final do campeonato cresceu o número de críticas e a polémica em torno da arbitragem, algo que Marco Ferreira viu com tristeza, mas que considera "normal" e que justifica com a atual política de comunicação dos clubes.
"O erro só acontece quando é contra a nossa equipa. Quando é contra os outros já é algo normal. Isso é cultural e está também muito ligado à atual comunicação dos clubes, que passam a mensagem de que perderam porque foram prejudicados. É uma mudança que tem de ser feita por vários setores, incluindo a justiça, porque esta forma de pressionar e de coagir tem de acabar. Põe-se em causa a seriedade e a idoneidade das pessoas e não há consequências, e isso é que tem de acabar no futebol português", pede Marco Ferreira.
Quanto à influência dos "homens do apito" no desfecho da prova e atribuição do título de campeão nacional, o ex-árbitro lembra que "o campeonato é uma maratona e não uma prova de 100 metros".
"Sou defensor de que quem acaba na frente é sempre um justo vencedor, porque isto é uma maratona e não um sprint de 100 metros. Claro que os erros que acontecem perto do final da prova são aproveitados pelas equipas que não atingem os seus objetivos, mas o campeonato é composto de muitas jornadas e a arbitragem não pode ser responsabilizada pela decisão do campeão. Todos têm queixas, mas no final de contas julgo que o balanço é quase sempre nulo e não se pode atribuir o título de campeão à arbitragem, mas sim ao mérito, trabalho e dedicação da equipa que venceu", termina o antigo árbitro da AF Madeira.
C/ LUSA